É unicamente quando o mar ou a terra nos separam daquilo que consideramos, efectivamente, importante que nos apercebemos do que realmente significam para nós.
És cruel. Surges quando sabes que não posso evitar-te. Mas és ao mesmo tempo cobarde porque não vens só. Revestes-te de uma espécie de camada rígida e trazes contigo um turbilhão de sentimentos e emoções que se elevam ao quadrado a cada minuto que passa.
Longe, tudo se torna inalcançável. A certeza transforma-se na nossa mais temível dúvida e aquilo que considerávamos real perde todo e qualquer contorno que se possa considerar verdadeiro.
Os sentimentos alcançam proporções desmedidas. As dúvidas desfazem-se quando até precisavamos que existissem para que pudessemos pensar nelas de cabeça fria. As certezas perdem as suas raízes e começamos a valorizar aquilo que deixamos para trás e ao qual não davamos qualquer importância.
Apercebemo-nos de que a nossa existência só dá fruto quando em contacto com as nossas verdadeiras raízes. Raízes essas que nos recusamos a regar quando possuímos capacidades para tal. Mas agora que o vento nos empurrou de encontro a uma realidade que não conhecemos, que teremos que lutar para a descobrir, lamentamos esse afastamento cruel, essa desconexão dura que acabará por nos ensinar a viver.
Saudade que vens com a maresia que penetra o meu olfacto, que me surges na noite mais escura e que me obrigas a desejar nunca ter saído de onde realmente pertenço.
Quero matar-te sem encontrar arma com a qual o fazer.
Submeto-me, então, a ti e por entre lágrimas e frustrações lamento o teres aparecido na minha vida quando menos precisava, amaldiçoo a tua existência e almejo o dia em que o sol brilhará só para mim, sem a sofreguidão do teu sopro.