segunda-feira, outubro 19, 2009

Ciclos


Voltas e voltas sem parar põem-me zonza e fazem mexer o meu mundo.

Em rodopios, correntes de ar e cores imensas, os dias atropelam-se, os anos sucedem-se.

Acredito em ciclos de vida. Em altos e baixos que vão e vêm. Que trazem risos e choros, que acontecem e morrem.

Mas hão-de voltar. Mais uma vez e outra mais. Nos piores dos momentos e nas melhores das ocasiões. Porque o bom nunca é eterno e o mau nunca acaba.

Porque os ciclos formam círculos onde não há vértices nem linhas rectas. Porque os círculos se fazem em compassos descompassados de tempo, em rodas imensas de vida, em anos e anos de experiência.

2004 e 2009 são anos a apagar do mapa. Porque os ciclos giraram ao contrário, porque o meu pequeno mundo se inverteu... nas alegrias e se levou ao expoente... nas coisas menos boas. Vá.

quinta-feira, outubro 08, 2009

Farsa


Ouvem-se três pancadas no chão seco e de madeira velha. Não há luz e uma cortina azul, de pano grosso e velho, começa a correr em frente aos meus olhos. O cheiro a antigo e a mofo invade-me as narinas turvas, os olhos enevoados abrem-se e enfrentam o ângulo frontal. A sala está cheia. As caras são conhecidas e únicas. Não há palmas. Há silêncio.
O pânico é mais forte do que as tremuras das pernas que deixei de sentir, os sussurros começam a roubar-me a mente concentrada e, por fim, a primeira palavra sai.
Tento arrancar sorrisos, tento fazer rir. Não resulta. Tento fazer chorar, fazer sentir. Não funciona. Lanço frases longas, duras, abstractas. Palavras perdidas, atiradas, insensatas. Gemidos fortes, inaudíveis, em placas. Lanço-me, enfim, num chão perdido e sem fim, sem buracos e sem pó. Sem existência viva ou real.
"Afinal, o que querem de mim? Estou a representar".
"Pedimos-te uma farsa e tentas levar a vida em comédia, em drama ou por acaso. Estás despedida".
Querem que a minha vida seja uma farsa.
Apresento a minha carta de demissão à companhia teatral que julga orientar-me.
Foto: aqui