quarta-feira, dezembro 27, 2006

Não Consigo


Devia ver-te, diz-me a consciência.
Devia ter a oportunidade de te dizer adeus ou simplesmente um olá, quem sabe.
Devia sorrir para ti, pegar-te na mão ténue e dizer-te "estou aqui".
Mas não consigo.
Sei que se te visse, não te veria a ti, mas a algo que de ti se tomou.
Sei que se te enfrentasse dar-te-ia a parte mais fraca de mim, aquilo que até o tempo te roubou.
Sei que se te olhasse seria pela última vez.
E não consigo.
Apodera-se de mim a cobardia dos que perdem a coragem
Perco tudo aquilo que nos ensinou que a vida é, de facto, uma passagem.
Fazes-me pensar que tudo pode escapar-nos pelos dedos, pode roer-nos a corda do destino, pode roubar-nos a felicidade, a riqueza, a família e a nós mesmos.
Não consigo.
Imagino aquilo que já não és.
Sonho com aquilo que de ti conheci.
Mas não consigo despedir-me de ti.

domingo, dezembro 24, 2006

O Homem dos Sete Instrumentos

Aqui está um exemplo de como, com as nossas mãos, conseguimos fazer muito mais do que o que imaginamos.



Feliz Natal para todos

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Porque é Natal


Porque é Natal, andamos felizes.

Porque é Natal, temos pena daqueles que são menos do que nós, que não têm um lar nem têm uma presente para dar.

Porque é Natal, assistimos a programas de televisão decadentes, com crianças que sofrem todo o ano, mas só agora decidimos dar-lhes atenção.

Porque é Natal, choramos a partida dos que já estiveram connosco.

Porque é Natal, damos dinheiro aos pobres, aos menos pobres e mesmo àqueles que são mais ricos do que nós.

Porque é Natal, perdoamos tudo. Ofendemos os outros sem pensar, mas passado uns minutos esquecemos e damos a desculpa de que "É Natal".

Porque é Natal, tudo nos parece mais bonito. Damos valor às pequenas coisas, andamos sensíveis e damos mais de nós do que em qualquer outra altura do ano.

Mas o Natal passa. O Natal é um dia, umas horas um momento do ano.

E nos restantes momentos, que fazemos nós?

Somos indiferentes aos outros, não temos desculpa para passar por cima deles, não temos uma prenda para lhe dar porque afinal... Não é Natal!

Há quem diga que Natal é quando o Homem quer. Eu diria que o Homem não quer que seja Natal. Esse Homem que sou eu e são todos vocês devia sentir vergonha.

O Natal são todos aqueles momentos que partilhamos com quem gostamos. São as pequenas coisas que nos dão e nos alegram tanto: os sorrisos, as cumplicidades, a companhia...

Pena que isto jamais vá mudar. O Natal vai ser sempre agora, neste dia, para todo o sempre.

E não me venham com falinhas mansas: o Homem não quer que o Natal seja noutro dia. O Natal é agora e nunca mais.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Uma janela aberta

Todas as pessoas que passam na nossa vida são únicas por simples razões.
Além de exclusivas, são também insubstituíveis e completamente incomparáveis.
Mas, por vezes, a vida afasta de nós muitas dessas pessoas. Porque existem caminhos a seguir, porque existem metas a alcançar e porque existe sempre um fim.
No entanto, quando uma porta nos é fechada, existe sempre uma janela a abrir-se diante de nós. Por vezes somos nós que não a queremos abrir, que temos medo de afastar as cortinas e de respirar o ar puro que vem de lá de fora.
Aprendemos a viver assim, com a vida e sem as pessoas que sempre foram importantes para nós. Algumas, mesmo que não partam deste mundo, deixam de estar presentes no nosso dia-a-dia, porque nem sempre os sonhos são fáceis de alcançar.
Foi esta a vida que escolhi: desprender-me de tudo o que me ligava afectivamente às minhas raízes.
Mas querem saber a melhor?
Quando olhei para a janela que se abriu diante de mim, não tinha uma mãe, não tinha um pai nem um irmão, não tinha um avô... nem um Daniel... Esses tinham ficado para trás a ver-me partir.
Mas tinha um dom, uma mão cheia deles: aquilo a que podemos chamar o verdadeiro amigo.
Aqueles que não substituem uma família, mas que verdadeiramente a são. Os laços de sangue podem não-nos unir, mas sabemos que estamos juntas venha o que vier. Vivemos as dores umas das outras e adoecemos quando a melancolia nos abate.
A todas elas deveria ter um "obrigado" a dizer.
Mas, pelo contrário, tenho a promessa que eternamente lhe estarei grata por não me terem deixado só quando pensei que só a mim me teria por companhia.
Esta é a janela que dá para o mundo que tive de enfrentar. Que foi duro, mas torna-se mole quando temos braços que nos podem aguentar.

domingo, novembro 26, 2006

A vida é um lugar estranho

Há estranhos lugares, em estranhos mundos, onde vivem estranhos seres que para nós serão sempre... estranhos!
Há outros, porém, que deixam de o ser porque abrem o seu coração para nós e nós abrimos o nosso ao deles, numa fusão de harmonia que nos soa... estranha!
Acredito que as almas vivem e se reencontram ao longo do tempo com aquelas que lhes são compatíveis. Podem passar anos, séculos ou até mais, quem sabe. Mas existem pequenos sinais no nosso dia-a-dia aos quais, se estivermos receptíveis, compreendemos que são indícios de que aquele ser, algum dia, conviveu com o nosso.
Isso aconteceu-me um destes dias em que, numa viagem como tantas outras, num dia como tantos outros, mais uma vez o comboio teve uma história para contar.
Havia alguém que deixou de ser estranho. Que nasceu para pertencer, não direi à minha vida, mas à minha experiência. E alguém o colocou no meu caminho para me ensinar. A crescer, a ver para além dos olhos dos outros, a ser mais receptiva e menos desconfiada.
E no momento em que formos capazes de ver que há tanta na gente no mundo que até pode ser igual a nós, mesmo que pensemos que não... Então aí seremos autênticos e capazes de comprovar que, ao contrário do que pensamos, a vida pode não ser um lugar estranho.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Olhos que não vêem

Há uma fila interminavel de gente que inicia mais uma semana de trabalho. Há um atropelamento contínuo de pés, de malas e de vozes. Um percurso acidentado que se sucede todas as santas semanas, em todos os primeiros dias.
Os olhares são quase sempre os mesmos. O clima arrefece o coração e o pensamento é transportado para um lugar longínquo. Quase tão longínquo quanto a nossa casa se vai tornado, assim que o comboio desliza pelos carris frios.
E eu olho pela janela os mesmos lugares, as mesmas paisagens. os actos são sempre os mesmos, rotineiros, batidos, pouco sentidos. Nunca há nada de novo, nunca há nada alegre na hora em que me sinto afastar daquilo que realmente me faz feliz.
Às vezes, num disparo de agonia sinto alguns corações baterem diferente, ouço alguns pensamentos perdidos e nasce-me a vontade. De correr, de gritar contra tudo. Como se todos fossem culpados por eu ter que me ir embora.
Hoje, apesar de cá dentro sentir o mesmo de todos os dias, houve algo que desviou a minha atenção. Tantas são as vezes em que olhamos e não vemos ou mesmo as vezes em que vemos e preferiamos não ver. Somos tão injustos...
Uma rapariga saiu do comboio, tal como eu. Era jovem, tal como eu. Cabelos compridos, olhar posto no infinito, tal como eu. A mão ia estendida em frente, segurando algo, tal como eu segurava. Aa minha mão rodava a mala que transportava tudo aquilo que ainda posso trazer comigo. Na mão dela, também algo que ela não pode abdicar. A vida que lhe tiraram, ofereceu-lhe o dom de ter sempre consigo uma companhia.
E mesmo rodeada daquele mar de gente vulgar, mesmo partilhando com eles aquele dia igual a tantos outros, naquele instante o meu momento fechou-se nela... O meu mundo afunilou.
Então vi-a. Era a Susana e o cão que lhe deu o olhar que a vida lhe roubou.

sábado, novembro 04, 2006

Sonho mau


Fecha os olhos e descansa. Amanhã, vou abrir a janela do teu quarto e deixar que a luz do sol te aqueça. Quando acordares, tudo terá sido apenas um sonho.
Já passou...
(aumenta o volume)

Tu Guardian

Duermete pronto mi amor
Que la noche ya llego
Y cierra tus ojos que yo
De tus sueños cuidare
Siempre a tu lado estare
Y tu guardian yo sere
Toda la vida
Si un dia te sientes mal
Yo de bien te llenare
Y aunque muy lejos tu estes
Yo a tu sombra cuidare
Siempre a tu lado estare
Y tu guardian yo sere
Toda la vida
Esta noche te prometo que no vendran
Ni dragones ni fantasmas a molestar
Y en la puerta de tus sueños yo voy a estar
Hasta que tus ojos vuelvan a abrir
Duermete mi amor sueña con mi voz
Duermete mi amor hasta que salga el sol
Duermete mi amor sueña con mi voz
Duermete mi amor que aqui estare yo
Esta noche te prometo que no vendran
Ni dragones ni fantasmas a molestar
Y en la puerta de tus sueños yo voy a estar
Hasta que tus ojos vuelvan a abrir
Duermete mi amor sueña con mi voz
Duermete mi amor hasta que salga el sol
Duermete mi amor sueña con mi voz
Duermete mi amor que aqui estare yo
(Juanes)

As palavras, às vezes, são tão efémeras....
Mas estou certa que amanhã, quando acordarmos, tudo não passará de um sonho mau.

sábado, outubro 28, 2006

Abriram-se as portas

A vida dá-nos, por vezes, sinais tão claros daquilo que podemos esperar dela, daquilo que precisamos para continuar a caminhar e daquilo que nos é imprescindível para não desistir...
Nos mais ténues pormenores somos chamados à atenção para a necessidade de não cair, com o risco de não termos quem nos estenda a mão e nos ajude a erguer...
Não que eles não estejam lá, mas porque nem sempre estão na mó de cima e com forças para aguentar com o nosso peso numa só das suas mãos.
Sim, por vezes o mundo desaba nas nossas costas. Por vezes a vida perde todo o sentido e sentimo-nos sós. Por vezes a voz dos outros não é suficiente para afagar a nossa mágoa e a dor é tão forte que se torna inexplicável, e tão fina que nos quer sufocar.
Mas é sempre verdade que um dia o sol tornará a brilhar.
E é sempre exacto que a vida nos oferece pingos de felicidade e toques de magia para nos fazer acreditar.
Ontem, quando à semelhança de todas a sextas-feiras, corria em direcção ao meu lar doce lar, tão desejado como nunca e que se reveste sempre de maior encanto quando se torna próximo, sabia que todos os minutos eram sagrados e nenhum podia ser desperdiçado.
Pus o pé fora do comboio que me trouxe de Braga e apenas cinco metros me separavam da última etapa que me faltava percorrer. Arrastei todo o peso que carregava, para além daquele que trazia nas costas, e quando, enfim, me aproximo, as portas fecharam-se e o outro comboio preparava-se para partir.
«Não acredito... Isto só a mim...»
Mas alguém lá em cima deve ter tido dó e pensado que ninguém merece tanta dor numa semana só. A espera de mais 15 minutos seria a última gota, perderia toda a força de regressar que agora se começava a esmorecer.
Preparava-me para virar costas e descer as escadas, mais uma vez com aquela mala penosa como a minha semana a arrastar-se atrás de mim quando, de repente, quando já não acreditava em nada... As portas abriram-se para eu entrar...
Foi um momento simples para tanta gente, provavelmente stressante para os restantes tripulantes do comboio que tinham horários para cumprir. Mas para mim, aquele segundo foi eterno.
Quando tudo me parecia impossível, as portas abriram-se só para mim e fizeram-me acreditar que quando se crê com muita força, o mundo dá-nos sempre um sinal e faz-nos esquecer a dor passada que a vida muitas vezes nos dá.

domingo, outubro 22, 2006

Cara Nova


Porque às vezes nos cansamos de quem somos e da imagem que reflectimos no espelho e nem sempre somos capazes de ser diferentes, o Sonata ao Luar decidiu mudar a cara com que todos o vêem.
Espero que apreciem, caros leitores, e que o continuem a presentear com as vossas humildes, mas sempre queridas visitas.
Um grande bem-hajam.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Dias tristes

Há dias em que a chuva que bate na vidraça e te molha os pés, se torna tão fria e fina que penetra também o teu coração.
Então o teu céu torna-se escuro, as nuvens movem-se na imensidão do tempo e o sol foge com medo de ti.
Nesses dias, tudo tem medo de ti. Até tu própria. Medo se seres quem és, medo de veres quem és, medo do que possas fazer e medo do que possas ser.
Nesses dias escuros, quando tens medo e queres chorar, quando queres fugir e regressar, quando queres um guarda-chuva para te abrigar, apenas te restas tu.
Olha que maçada! Mas tu estás com medo. O dia é escuro e tu temes o breu.
Se a tua mãe cá estivesse acendiamos uma vela e contavamos histórias dos velhos tempos, quando a luz não passava nas correntes da tua humilde terra. Ou então jogavamos ao STOP, em volta da lareira da sala, que aquece sempre tudo: a casa, a família, o coração.
Bolas... Há dias em que chove, em que tens medo, em que não há luz e em que não tens lareira.
Esses sim, são os dias mais tristes.

domingo, outubro 08, 2006

Ignorem-me


3, 2, 1.. Acção!
Olá... Eu sou...
As palavras fogem pelas cordas vocais vibrantes. A voz desfaz-se numa rouquidão muda. A inquietação sobe e transmite ao corpo um suor frio e seco que as mãos não conseguem enxugar. Escorregam as sílabas e perdem-se na imensidão de pensamentos que se focam unicamente no ponto vermelho que pisca agora e me quer ofuscar.
Já devia ter começado a falar. Todos me olham mas não os consigo ver. Todos me escutam mas esqueci a tonalidade da minha voz.
Olho em volta sem descolar o olhar e sinto-me só, impotente, insegura.
Neste momento, tudo o que é certo deixa de o ser, tudo o que é seguro começa a desaparecer e somos nós e ela, que perscruta o nosso movimento mais simples.
Não penso que ninguém viu, penso que ninguém deixou de o ver porque hoje eu estou no centro. Mas ai como odeio ser o centro, ai como queria recolher-me na insignificância da minha criatura, escorregar pela liquidez do chão que me quer fugir por debaixo dos pés.
Foge. E a minha vontade é de o perseguir, de perfurar a objectiva e desaparecer. Num além infinito onde possa, enfim, criar para o mundo, mas sem que me vejam...não me agradeçam, não me digam nada, não me façam nada. deixem-me ser quem sou, transparente e fantasma, passem por entre mim e simplesmente...
Ignorem-me.

sábado, setembro 30, 2006

Um sonho tornado real

Há sonhos que nascem connosco, há outros que crescem ao longo da vida.
Foi um dia, quando os meus sábados de manhã ainda não eram perfeitos, quando juntava a minha voz a dezenas delas na Academia que me ensinou a amar a música, que o Cats entrou na minha vida.
"- Tenho uma nova música para vocês". As notas entoavam algo como "Oh, well, I never was there ever a cat so clever as magical Mr Mistoffeles..."
A primeira vez que assisti ao espectáculo foi pela TV, dias mais tarde, como se o destino me estivesse a apontar pistas para aquele que seria o mais fabuloso climax de música e dança a que alguma vez poderia assistir.
O sonho nasceu na utopia de o encontrar no West End (New London Theatre). A impossibilidade de o concretizar confirmar-me-ia o facto de ser apenas mais uma fantasia.
Mas, como sempre me ensinaram, quando Deus nos fecha uma porta, abre-nos algures uma janela. E a brisa chegaria no dia 14 de Setembro de 2006, ao Coliseu do Porto.
O camarote era só meu e aos primeiros acordes, os milhares de pessoas em redor deixaram de existir assim que me fundi naquela excentricidade de sons que dançavam diante mim. As vozes atiravam-se para o infinito, os corpos moviam-se num bailado encantador.
Vidas que, num processo de metamorfose belíssimo, personificavam o viver de uma comunidade de gatos vadios que se reunem todos os anos para eleger aquele que será elevado à divindade.
As minhas mãos batiam palmas freneticamente sem que pudesse controlar, a minha voz queria juntar-se à deles e o meu corpo bailar ao mesmo ritmo. A altura impediu-me de o fazer, mas foi incapaz de conter as lágrimas recatadas da emoção enclausurada durante tantos anos de sonho ardente.
Porque tudo o que custa a alcançar tem sempre um sabor especial...
O Cats foi a mais bela manifestação musical a que alguma vez assisti.
Um sonho tornado real.

sábado, setembro 23, 2006

Tempo

Vai e vem como o vento, como o sol em dia de tempestade, como as estrelas em noite de lua nova.
Corre quando se deve arrastar e rasteja quando deve galopar.
É cruel e brincalhão, trocista e rezingão.
Esconde-se no fio dos dias, por detrás das colunas do coração e troça de mim...
Passa, e quando passa deixa sempre algo para trás.
Tem fases... Eu costumo dizer que "é de luas"... Ora é leve e passa despercebido por entre o mar de pensamentos que me preenchem, ora se enche de orgulho e se reveste de importância, instalando-se na memória e ocupando os espaços vazios.
Não vivo sem ele, mas por vezes odeio-o e quero poder "cortar-lhe as pernas, para que deixe de correr" ou, quem sabe, oferecer-lhe umas asas para que aprenda a voar...
É o tempo.
E dele, o Abrunhosa fala assim:

Batem relógios no raiar dos dias,
Por cada batida novas fantasias.
Loucas palavras, luzes cor de mel,
E Ventos que trazem nuvens de papel.
Diz-me o que hei-de eu fazer,
Sinto no tempo o meu tempo a morrer.
Quanto mais longe, mais perto de ti.
Vozes ao longe chamam por min,
Cantigas, magia, passos de arlequim.
Estrelas cadentes na palma da mão,
Milagres, duendes, rasgos de paixão.
Diz-me o que hei-de eu fazer,
Sinto no tempo o meu tempo a morrer.
Quanto mais longe, mais perto de ti.
Ouço os segredos do fundo do mar,
Barcos perdidos, sereias a cantar.
Trago o teu nome escrito no peito,
Volta para mim, faz teu o meu leito.
Diz-me o que hei-de eu fazer,
Sinto no tempo o meu tempo a morrer.
Quanto mais longe, mais perto de ti.
(Pedro Abrunhosa, Tempo)

sábado, setembro 09, 2006

Um lugar para recordar



Espero o momento da partida que não desejo, Aguardo que se façam bons ventos
Ponho a mochila às costas
E leio os meus pensamentos.
Os passos são leves e deixam um rasto infindável
A respiração calma, quase calada
Olho para trás pela última vez e agora sei que não quero partir.
Os dias de ontem sorriem-me largamente
Em movimentos secretos de alegria
Há acenos de mão, abraços apertados e vozes que se fazem ouvir.
No fundo sei que me dizem para continuar.
Agora sou eu quem não as quer escutar.
Os passos são cada vez mais ténues e incertos. O fim aproxima-se a compassos marcados. Há uma lágrima roliça que não quero deixar cair, mas antes que eu tenha tempo de a evitar, já o seu sabor salgado se espalha nos lábios.
As vozes são graves, as mãos desenlaçam-se assim que me afasto.
Então as imagens desfocam-se à distância e para trás não deixo nada mais senão um rasto...
A saudade.
A mochila às costas faz-se pesada de recordações
Coloco a mão à porta, sei que não há volta a dar,
Não olho para trás porque já não consigo ver
É de olhos fechados que apago os pensamentos passados
E enfrento o futuro sem a certeza do que irá acontecer.
Sei que não quero ir
Sei que não quero partir
Mas sei que onde chegar
Tenho a esperança que hei-de encontrar
Um lugar seguro para recordar.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Frio no Coração

Abro a janela...

Há um frio que me rasga com a força de um punhal
Há um arrepio, um gélido suspiro carnal
Lá fora, o vento sopra quente,
Há um bafo de verão
Cá dentro, bate calado e frio o meu coração
A vida desfila perante a escuridão dos olhos que não consigo ver
Os sorrisos que tive, os risos que sustive estão prestes a desaparecer
Há lágrimas e suor,
Saudades e recordações que se atropelam com ardor
O bom da vida aparece a preto e branco no filme que gravo ao longo do tempo
As imagens ressaltam o meu pensamento
Faz calor lá fora
Desejo que esta luz nunca se apague, este sol nunca pare de me aquecer os dias ternos
Almejo que estes tempos para mim sejam eternos
O tempo escurece, a lua aparece
O termómetro ainda esquenta a pele queimada e partida
O choque térmico dá-se agora,
Quando tudo dorme excepto o meu coração ferido,
O meu futuro sentido,
A ânsia de que nunca chegue.

Fecho a janela,
Faz frio no meu coração.

quinta-feira, agosto 31, 2006

Conto de Fadas


Pego no lápis de cor e desenho um sol amarelo que enche de alegria o ar, uma nuvem azul e um pássaro cor de mar.
Em baixo, os campos são verdes e a minha casa é branca como a neve, o telhado encarnado deixa escapar a pequena chaminé inclinada pelo fumo que dela sai ao de leve.
Há flores, ervas e uma árvore de frutos vermelhos. Pergunto-me se poderei comê-los e o desejo trai-me quando arranco a pequena maçã do ranco. É fresca e ácida, mas estranhamente não me cresce água na boca. Aprecio e gosto. Sorrio e rebolo no chão.
O meu vestido é cor-de-rosa com muita roda, os meus cabelos estão clareados pelo sol e ondulam com a brisa que mos penteia. As meias brancas tocam-me ao de leve os joelhos alvos e os meus pequenos sapatinhos são rosa, da cor do vestido que hoje trago.
Não há chuva nem vento, tempestade nem tormento. Aqui, tudo é rosa e azul bebé...
Há um cavalo branco que montas e conduzes a trote até mim. Entao ajudas-me a subir e a montar como "uma senhora", com ambas as pernas arrumadas ao lado esquerdo.
Partimos em direcção ao teu castelo feito de por-do-sol e nuvens douradas.
Aí somos só nós, numa história de conto de fadas...

segunda-feira, agosto 21, 2006

Antropologicamente Falando


De entre muitos pensamentos que me invadem e que merecem ser transcritos no meu blog, o surgimento desta ideia pode dizer-se que veio do nada. De um nada preenchido de pessoas, de seres que, de uma maneira ou de outra, me marcaram e continuam a marcar a cada dia que passa.
Todos conhecemos um número infinito de pessoas. Já tentaram recordar-se de todas e de as contar? Eu diria que tal é impossível. Na verdade, são tantas as que passam pela nossa vida e que deixam alguma coisa (ou mesmo que nem deixem nada) que são pouquíssimos os dedos das mãos que nos permitam contabilizá-las. A propósito do facto de essas pessoas nos darem ou não alguma coisa, eu acredito que muitas vezes não temos noção do quanto elas nos dão. Mesmo que pensemos que não nos deixam nada de importante, o erro reside em pensarmos em tal. Um sorriso, um olhar, uma palavra mesmo que rude, tudo isso são presentes que o destino coloca no nosso caminho para nos lembrar que não estamos sós e que onde quer que vamos, seja qual for o caminho que escolhermos, estará sempre alguém, nem que seja no fundo do túnel, quando pensamos que ultrapassamos o pior sozinhos e que já não necessitamos de ninguém. Pois enganamo-nos: precisamos sempre mais dos outros do que nós próprios imaginamos.
E porque normalmente as nossas recordações não têm cor, penso que esta imagem é o melhor que a minha mente pôde fotografar...

sexta-feira, agosto 18, 2006

Recordando...

Incrível o poder que detém a música ao ponto de ser capaz de transladar o nosso corpo e alma para um oriente desconhecido, desprovido de qualquer ligação terrestre. Ganhamos asas e desconectamo-nos do mundo real. Ali somos só nós e os nossos pensamentos, dispersos numa imensidão de emoções...
É este o poder do som. A acústica penetra o tímpano mais imune e percorre as veias frias que logo escaldam a alma mais distante.
Admirável a capacidade de evasão que ela nos proporciona. Por isso eu decidi viver por ela. Entrego-me a ela a cada acorde solto, a cada nota desgarrada à profundidade do sentimento que causa. Faço-o porque sei que me torno melhor a cada cadência, porque o meu coração marca o compasso calmo e certo da batida por que se rege.
Apreciar uma música passa pela liberdade de evasão proporcionada pelas palavras que nos canta, mas também pela penetração na sua essência até ao mais profundo acorde, à mais tímida escala que se solta pianinho por detrás do pano...
É assim a música: indescritível, dotada de poderes supremos que somos incapazes de compreender. Apenas o entendo quando aprecio bem fundo o dom que só alguns possuem de, com o próprio coração deixarem soltar uma conjugação de notas que tornam o nosso ouvido sensível à sua beleza e que são capazes de transformar a nossa vida em algo bem mais interessante.
E porque uma música é capaz de mudar muitos momentos, deixo aqui a letra de uma que mudou as minhas férias e, quem sabe, os meus dias, enquanto os houver...


Para tu amor
Juanes

Para tu amor lo tengo todo
Desde mi sangre hasta la esencia de mi ser
Y para tu amor que es mi tesoro
Tengo mi vida toda entera a tus pies
Y tengo también

Un corazón que se muere por dar amor
Y que no conoce el fin
Un corazón que late por vos
Para tu amor no hay despedidas
Para tu amor yo solo tengo eternidad

Y para tu amor que me ilumina
Tengo una luna, un arco iris y un clavel
Y tengo también
Un corazón que se muere por dar amor
Y que no conoce fin
Un corazón que late por vos
Por eso yo te quiero tanto que no sé como
explicar lo
Que siento

Yo te quiero porque tu dolor es mi dolor
Y no hay dudas
Yo te quiero con el alma y con el corazón
te venero
hoy y siempre gracias yo te doy a ti mi amor
por existir

para tu amor lo tengo todo
lo tengo lodo y lo que no tengo también
lo conseguiré
para tu amor que es mi tesoro

Tengo mi vida toda entera a tus pies
Y tengo también...

domingo, agosto 13, 2006

Tears and Rain


Aqui os dias são perfeitos, coroados de sol e luz, sal e calor.
Aqui os raios brilham na clareza dos corpos dourados, na frescura das ondas que vêm e vão e nunca se acabam.
Aqui tudo começa onde a minha solidão termina. A areia estende-se no manto interminável dos dias que são um fio sempre igual, sempre fino e delicioso porque são dias, que começam ténues e claros e terminam doces, brindados de açúcar e gelo e música...
Aqui há uma varanda com vista para o mar, há uma onda que surge de entre o betão erguido ao céu, robusto e escuro, rasgando a celestidade do céu.
Aqui há Eça de Queirós, há sorrisos e diversão...
Saudade... Aqui há algo que não está, há algo que ficou e a reacende a chama do regresso.
Mas aqui há "tus", há "eus", há "nós"... Um "nós" que não conheciamos...
Um olhar na eternidade, um beijo na intimidade, um sorriso de felicidade...
Aqui, tudo o que não temos "...is just tears and rain..."

sexta-feira, julho 28, 2006

Sede

Para quê forçar as palavras que não querem sair?
Para quê arrancá-las de dentro do ser se são incapazes de se conjugar semanticamente, de fazer qualquer sentido em conjunto com as outras?
Para quê?
Frustração, dor, agonia...
Saiam, mostrem-me o vosso mundo de fantasia, de letras soltas e vocábulos ocultos na escuridão dos dias que se tornam alvos à vossa chegada, sempre leve, sempre calma, sempre minha...
Sede de vós...
Sede de voz...
Sede de mim...

quinta-feira, julho 20, 2006

Pensamentos de Férias

Gosto desta vida de ócio. De tudo fazer sem nada acontecer. Ou de simplesmente não fazer.
Férias são férias quanto mais não seja para regressar a casa, terminar com a rotina habitual que não muda, não altera porque senão deixaria de ser rotina.
Braga: 08h05: despertar na residência, encontro marcado na recepção às "menos um quarto", na Bracalândia, também às "menos um quarto" (estranho... depois de um ano a cumprir o mesmo ritual diariamente, nunca ninguém se apercebeu que, apesar da distância ser relativamente curta, é praticamente impossível estar na recepção e na Bracalândia à mesma hora, mas enfim... a Nia nunca se zangou. Eu diria que a Nia nunca se zanga...)
São assim as pessoas de bom coração, ou melhor, as pessoas que realmente têm coração. Porque quando se tem coração ele é sempre bom e só é mau se sofrer de alguma doença cardíaca ou coronária ou arritmia ou taquicardia... Mas há aqueles que mesmo na enfermidade são incapazes de deixar de ser aquilo que lhes está no sangue. "Bons", na verdadeira acepção do termo. Conheço poucas pessoas assim. Talvez só conheça duas ou uma. Mas uma sei que conheço realmente e que venha o que vier jamais ela mudará para mim.
Férias mais uma vez, férias mais um ano. Tudo passa com excepção daquilo que deixo de bom na minha segunda cidade.
Aprendi a gostar de Braga aos poucos, com o passar dos dias. Torna-se bonita quando o sol a presenteia com a sua luz da manhã, quando as rãs musicam o dia e as noites quentes que nos penetram pela janela da residência sempre alegre, sempre dinâmica nas vozes daqueles que chegam de madrugada, sabe-se lá de onde, atormentando o descanso de quem merece e precisa tê-lo.
A sua beleza passa ao lado daqueles que têm de viver com ela para não sucumbir ao tentar suportar a saudade da terra natal, da família, das raízes...
Braga deu-me tanta coisa boa e ensinou-me a suportar tanta coisa má.
Mas Braga quase que desaparece da minha mente agora que regressei a casa, ao meu lar de santidade. Acordar com a voz da mamã, sentir a festa subtil do meu gato, ter o dia todo para partilhar com a razão da minha vida, com a luz que ilumina os meus dias mais sombrios mesmo à distância de quase 60km de estrada longa...
As férias são sempre boas quando são férias. E são sempre merecidas quando passamos um ano a lutar por elas.
Braga é boa quando sou obrigada a adorá-la. As férias são óptimas porque me sinto enraizada no lar e no aconchego que sempre me dá. Porque nem sempre estar longe é fácil e bom. E porque nem todas as cidades nos oferecem uma Nia, no seu enorme coração, sempre aberto para receber todos os desenraizados que pelo infortúnio da vida, cairam de páraquedas numa cidade desconhecida.

terça-feira, julho 18, 2006

Chegou o Fim


Hoje vesti-me de negro para Te agradecer.
A negritude da minha indumentária contrasta com a alvez do coração. Todos me olham porque difiro. Mas hoje sou imune a tais olhares. Hoje sinto-me pura na tranquilidade deste lugar seguro. Seguro, pelo menos, dos corações corrompidos.
Fui agradecer-Te. A história quis que o tivesse feito lá. Eu sei que não precisava de me ter deslocado para tão longe porque a Tua presença está inerente. Mas fi-lo. Arrependimento não sinto.
A Ti Te agradeço, pelo sorriso, pelo alívio mas igualmente pela dor e pela incerteza que tiveram um fim.
Se foi graças a Ti, não o sei. Mas a minha Fé diz-me que podes ter "mexido uns cordelinhos" aí em cima por mim. Por nós, que somos Teus.
Não há uma única palavra que sirva de agradecimento, nem de perdão.
Perdão pela falta de confiança, pelas promessas incumpridas quando irrealizadas. Mas todos sabemos que para crer é preciso ver. E a nossa fragilidade é incapaz de ultrapassar tal limitação. O ser humano é mesmo assim. Fraco...
Enfim, hoje chegou o fim... da dor.

quinta-feira, julho 13, 2006

Tudo se paga neste mundo


Chegaste dentro duma caixinha de sapatos que nunca sonhei abraçar. Pequeno, indefeso mas acima de tudo... lindo. De uma beleza que desafia a perfeição da Natureza. Exististe e começaste desde logo a fazer parte da minha vida, dos meus dias que agora são mais alegres porque os posso partilhar contigo.
Não falas. Mas olhas-me e o teu azul é tão profundo que se torna idílico. Dás-me paz. Dás-me sorrisos. Dás-me alegria. Dás-me companhia...
É incrível como um ser vivo tão diferente de nós é susceptível de captar a nossa atenção ao ponto de descobrirmos nele tantas semelhanças connosco.
Inveja talvez... Da sua paz, da sua diversão, da sua vida monótona de quem vive unicamente para viver... Do seu Carpe Diem.
Admiro a sua expressão serena, sempre inerte. Na verdade, nunca sorri. Nunca chora. Mas acaba por ser inacreditável a forma subtil como comunica connosco. A racionalidade que não possui transcende muitas vezes aquela que nós temos.
Experiência imperdível esta de conviver com um ser tão pequeno e tão diferente de nós...
É a primeira vez que convivo com um animal. E acreditem, estou a adorar.
Este é o Leo.
Leo de leão. Leo de pequeno príncipe que teve a sorte de encontrar um lar, uma família que o acolhesse.
"Tudo se paga neste mundo" - dizia a minha mãe que mudou hoje de ideias, ao compreender que este pequeno ser consegue dar-lhe a companhia que não tinha nos dias que são sempre longos na solidão de quem está sempre à espera daquilo que nunca vem.

sábado, julho 08, 2006

Só mais uma vez

Hoje posso voar, saltar, dançar...
Ser quem nunca fui. Ser eu pela única vez na vida em que mo permitem sê-lo.
Hoje soltaram-me as amarras da metáfora que me prendia à vida.
O relógio torna a andar, os segundos giram no frenesim dinâmico das horas que para mim já não passam. E se passarem sei que voltam a vir...
Nada mais me importa porque hoje eu sou livre.
Hoje eu sou eu...
Solto as minhas asas e preparo-me para voar.
Abro então a janela que me prende aqui e mentalizo-me para o impulso final.
Sei que quando cair nessa pureza infinita serei apenas eu e os meus medos, eu e apenas eu na certeza de que me tenho unicamente a mim.
Aperto firme o coração contra o peito, elevo um pé, depois o outro e...

- Cristiana, filha... São horas de acordar...
- Já vou mãe, deixa-me sonhar só mais um bocadinho, só mais uma vez...

quarta-feira, junho 21, 2006

Palavras para quê?

quinta-feira, junho 15, 2006

Epicentro no Coração

A minha porta fechou-se aqui. Fechaste-a atrás de ti,
Tempo passado...
Saudade que me aperta a dor que bate cá dentro.
Recordação dos momentos de alegria que partilhavamos.
Tristeza que palpita em momentos de agonia.
Que vêm e vão como os barcos...
Vejo-vos partirem e espero ansiosa como a noiva do marinheiro.
Viúva precoce, futuro que não virá...
Turbilhão de pensamentos que me atraiçoam a mente.
Felicidade que tenho mas que por vezes vive camuflada na insensatez do dia que não passa...

Tudo isto me bate aqui como um tremor...
Que abana, abala, mas não quebra.
Que tem o seu epicentro aqui... no meu coração.

sábado, maio 20, 2006

Carrossel da Vida

Soa a campainha.
Precipitamo-nos todos na direcção do lugar que nos dará maior grau de adrenalina.
Descem as protecções de segurança e alguém vem confirmar se estão realmente cerradas.
O vento começa a bater-nos na cara, sentimos a pressão que nos empurra para baixo e então recordamo-nos da placa que desaconselhava o embarque a cardíacos.
Arrependemo-nos .
Mas já é tarde demais.
Já lá estamos dentro e não somos os únicos.
A subida é lenta, mas em breve precipitamo-nos para um abismo que não podemos ver porque a velocidade é tanta que parece golpear-nos os olhos à navalha. O coração bate mas às vezes parece que quer parar.
Sobe e desce o comboio, mas curiosamente a subida é sempre mais lenta do que a descida. E se queremos lá ficar em cima para apreciar a altitude e a sensação de superioridade, então é tarde demais porque logo descemos numa loucura que nem nós conseguimos controlar.
Vamos todos. Mas apenas alguns voltam...
Voltam os mais fortes...
São sempre esses os que ganham,
A força e a coragem do carrossel da vida.

domingo, maio 14, 2006

Asas


Hoje perdi as asas.
Já não posso nem sei voar.
Aterrei aqui onde já só existo eu
E a incerteza do dia que há-de chegar.

Olhas-me nesse sorriso belo e vago. Soltas as tuas asas, ensinas-me a voar. Mas o mundo continua triste visto de cima. Uma mancha lacrimosa caiu sobre ele e escorre sobre mim.
Caio e reconheço que nada me resta senão esperar.
Esperar no desespero de perder a liberdade de planar sobre tudo e sobre todos.
Menos sobre ti...

Sorriso belo,
Sorriso vago.

sábado, abril 01, 2006

Futuro

Odeio a crueldade com que me apunhalas o ventre com a faca do destino que não me faz sangrar.
Odeio a incerteza dos teus dias que passam sem nunca passar.
Odeio ter que acordar na hora em que não vais acontecer.
Odeio a tua existência maligna que me ameaça corroer.

segunda-feira, março 20, 2006

"Não sabemos de nada"


Chamam-lhe Tratado de Bolonha.
Dizem-nos que vamos ser prejudicados. Ou pior, dizem-nos que vamos ser os mais prejudicados.
Perguntamos o que é, respondem-nos que são uma série de alterações: 3+2 (um belo somatório que resulta num curso de 5 anos em que os finalistas saem já com mestrado), disciplinas semestrais, componente prática a integrar os primeiros anos de licenciatura, etc.
Tudo o que qualquer um de nós sempre sonhou... Mas, que pena, não é para nós!
Perguntamos se vamos lucrar com isso, respondem-nos que podemos lançar uma proposta mas advertem-nos de que a proposta do próprio Director do Departamento foi recusada pelos "maiorais". Mas mesmo assim acreditamos que ainda podemos mudar o mundo...
E em nós... Será que alguém está a pensar em nós, a não sermos...
Nós?
Mas será que alguém é capaz de nos fornecer alguma informação que nos ofereça alguma estabilidade, que nos diga o que fazer?
"- Sabemos que isto é preocupante para vocês, mas não podemos dizer nada porque, de facto, não sabemos de nada."
Então porque é que se meteram nisto?

quarta-feira, março 15, 2006

Não te disse Adeus

Corro para o lado oposto, olho pela janela e não te consigo ver. As imagens começam a atropelar-se e a afogar-se nas lágrimas que os meus olhos não conseguem deter. Olho em volta e sinto-me observada.
Choro.
Quero sair mas uma força agarra-me e impede-me de transpor essa barreira que me afasta agora para bem longe.
Choro.
Todos me olham e sinto vontade de chorar ainda mais, de deixar de prender os soluços que ameaçam sufocar-me. Fecho os olhos e vejo-te chegar, procurar-me, imaginar o que terá acontecido, o que terá a vida reservado para nós. Hoje ela decidiu separar-nos com a espada cruel de não nos dar sequer o amparo da despedida.
Choro.
Sei que voltarei em sentido oposto. Sei que vou sorrir ao olhar a paisagem da janela e ao ver-te acenar-me, os teus olhos risonhos recebendo-me de volta.
Mas enquanto isso, lamento a partida sem a doçura do adeus que hoje me empurra no tempo de volta para aquele momento em que não me viste partir.

segunda-feira, março 06, 2006

Taras e Manias

Embora já tenha sido desafiada há bastante tempo, só hoje senti capacidade de comunicar ao mundo algumas "manias" que me possam tornar de alguma forma diferente do restante comum dos mortais. Desde já agradeço a quem de mim se lembrou, deixando claro que o atraso não terá sido jamais por negligência.

Regulamento: "Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."

1ª Mania: Falar rápido. E de tal forma que se torna incontrolável. Sei que sou prejudicada por isso, principalmente porque há alturas em que nem eu própria sou capaz de entender o que digo. Não se trata de qualquer deficiência ou deslexia, mas alguém me construiu assim. Por outro lado, já ouvi comentários de que esta "mania" (se é que assim pode ser considerada) acaba por influênciar aqueles que convivem comigo frequentemente que, além de se habituarem a raciocinar a mil à hora para compreender a minha linguagem, acabam por começar a produzir as palavras com a mesma rapidez. Parece impossível, mas raramente consigo controlar...

2ª Mania: As doenças. Pode ser uma simples picada de mosquito, um alimento menos aceitável pelo meu estômago ou a minha cabeça que sentiu necessidade de me "chatear". Vou morrer, não duro mais do que um mês... Enfim... (Ao menos desta tomo consciência)

3ª Mania: Cumprir horários. Não consigo viver com calma nem muito menos entender os que o fazem. Compromisso é compromisso mesmo para a situação mais insignificante. Horas foram feitas para ser cumpridas e se eu acordo com tempo para fazer tudo o planeado para esse dia, porque é que tenho que alterar os meus planos devido ao atraso dos outros? Não aceito ter que depender das "incompetências" dos restantes, principalmente quando me esforço por cumprir uma hora estabelecida e sou a única a fazê-lo!

4ª Mania: Pastilhas Elásticas. São a minha salvação em qualquer que seja o momento. Não passo sem elas. Ajudam-me à digestão (lá está a consonância com a 2ª Mania), a amparar o stress, a ocupar o tempo ou simplesmente a exercitar o maxilar...

5ª Mania: Contar os dias que faltam para o final da semana. Não consigo evitar. Deixar o meu Home Sweet Home é sempre difícil, há uma grande parte de mim que fica cá mesmo que já me tenha convencido de que passo mais tempo em casa do que fora. É, mais uma vez, inevitável! Penso que jamais vou ultrapassar esta necessidade de ver os dias a andar ao avesso.

quinta-feira, março 02, 2006

"Bom dia, Boa tarde e Boa noite"

As minhas viagens de comboio testemunham histórias simplesmente fascinantes.
Pessoas que, tal como eu, sobrevivem a mais um dia igual a tantos outros, confrontam uma realidade criada por alguém que decide transformar o seu e o nosso dia em algo difícil de igualar.
Olho pela janela as imagens que se atropelam num turbilhão de pensamentos, os pormenores de uma beleza inigualável que se me escapam na velocidade incontornável dos carris serenos sobre os quais deslizo eu e todos os outros que agora são iguais a mim.
“ – Bom dia, boa tarde e boa noite. Escrevi o teu nome na água, coisa mais impossível não se vê, mas o teu nome é tão lindo que até na água se lê”.
Olho, estupefacta, tal como todos o fazem. O discurso prossegue numa série de versos decorados e declamados da mesma forma que o fazíamos na escola primária para as festas de Natal quando os apregoávamos de coração aberto aos olhares atentos dos nossos pais e professoras, enquanto os nossos colegas se divertiam a fazer tudo menos a prestar-nos atenção.
Hoje, também eu sou “colega” desse homem que decidiu tornar a minha viagem de sempre, um pouco especial.
Sim, também eu olhei para a janela, ignorando a sua actuação fascinante, o seu sorriso inocente e o seu andar trôpego. Fiz-me igual a todos os outros passageiros, entreolhando-se admirados, mas incapazes de soltar qualquer comentário.
Senti vontade de me levantar e de aplaudir sorrindo-lhe. Mas iria saltar à vista e tornei-me incapaz de, tal como ele, ter tentado fazer alguém feliz, neste dia igual a tantos outros.

domingo, fevereiro 26, 2006

Estranha forma de vida


Arrepio-me....
Acontece-me frequentemente olhar em profundidade e estranhar.
As faces, as vozes, as existências que me acompanham desde sempre.
São-me tão familiares e ao mesmo tempo tão distantes, inexistentes, desafiantes.
Como é que o mundo pode trair-nos através de um simples olhar?

É tudo tão efémero que chega a fugir-nos entre os dedos mesmo quando ainda é nosso...
Oxalá sejamos sempre capazes de dar valor ao que possuimos, embora esteja certa de que nunca o seremos.
Talvez esses momentos de incerteza sirvam para isso mesmo...

Para ajudar...
A dar valor...
Ao que temos...
Ao que fomos...
Ao que somos...

Estranha forma de vida...

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Meu anjo

Será que me ouves? Ou serás tu apenas uma doce recordação de um pedaço da minha vida que levaste contigo?
Partiste e levaste não só a tua bondade, o teu amor, a tua força de viver... Levaste um pouco de mim e um pouco de todos aqueles que te amavam, que te guardavam no coração e que, acima de tudo, invejavam a tua força de viver, a tua raiva para combater contra as garras de um além que nunca foste incapaz de derrubar...
Eu sei, meu anjo, que me olhas e me guias na mais escura das minhas noites. Mas também sei que te entristeces e que me arrefeces quando a noite é morna, condenando-me por não te recorrer quando mais preciso. Eu sei que não partiste, que estás aí e simultaneamente aqui, dentro de mim. Mas sou fraca para combater a dor de não te querer recordar, de lutar para te ter presente e de não conseguir.
Porque me foges? És tu que ultrapassas o meu além ou serei eu que não tenho asas que me elevem a ti? Se pedir perdão fosse a chave para a minha redenção, eu fá-lo-ia com toda a compaixão que te mereço. Mas o tempo que tinhamos para partilhar a nossa vida esgotou-se naquele dia em que o céu te roubou de mim.
Decido, então, fechar os olhos e ver-te: o cabelo cuidadosamente penteado, a pele rosada e aquela expressão de coragem, de quem sempre a teve para enfrentar a vida. Foste, és e serás sempre minha.
Senão na minha vida, hoje e para sempre no meu coração.

(Quem visitou o meu photoblog, provavelmente recorda-se deste post. Contudo, decidi afirmá-lo mais uma vez. Há alturas na vida em que somos incapazes de esquecer quem parte...)

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Utopia

(Foto: Olhares.com)

Toco a tua imensidão e sinto-me vazia.
Preenches-me com a forma de um ser elevado ao extremo da perfeição e horrorizas-me em agonia.
Imagino-te crescer dentro do meu peito, preencher os meus dias, mudar a minha vida. Sorris comigo e sorris-me. Fazes-me chorar...
Não te vejo, não te cheiro não te posso nem tocar.
Odeio o que sinto, como te sinto... Se te sinto...
Porque vens?

Sou enorme na tua pequenez. Toco, enfim a tua essência e morro de dor por não te poder matar...

Acordo e agradeço a Deus nunca teres vivido em mim.

És Utopia. Oxalá o sejas enquanto não te desejar.