sábado, setembro 23, 2006

Tempo

Vai e vem como o vento, como o sol em dia de tempestade, como as estrelas em noite de lua nova.
Corre quando se deve arrastar e rasteja quando deve galopar.
É cruel e brincalhão, trocista e rezingão.
Esconde-se no fio dos dias, por detrás das colunas do coração e troça de mim...
Passa, e quando passa deixa sempre algo para trás.
Tem fases... Eu costumo dizer que "é de luas"... Ora é leve e passa despercebido por entre o mar de pensamentos que me preenchem, ora se enche de orgulho e se reveste de importância, instalando-se na memória e ocupando os espaços vazios.
Não vivo sem ele, mas por vezes odeio-o e quero poder "cortar-lhe as pernas, para que deixe de correr" ou, quem sabe, oferecer-lhe umas asas para que aprenda a voar...
É o tempo.
E dele, o Abrunhosa fala assim:

Batem relógios no raiar dos dias,
Por cada batida novas fantasias.
Loucas palavras, luzes cor de mel,
E Ventos que trazem nuvens de papel.
Diz-me o que hei-de eu fazer,
Sinto no tempo o meu tempo a morrer.
Quanto mais longe, mais perto de ti.
Vozes ao longe chamam por min,
Cantigas, magia, passos de arlequim.
Estrelas cadentes na palma da mão,
Milagres, duendes, rasgos de paixão.
Diz-me o que hei-de eu fazer,
Sinto no tempo o meu tempo a morrer.
Quanto mais longe, mais perto de ti.
Ouço os segredos do fundo do mar,
Barcos perdidos, sereias a cantar.
Trago o teu nome escrito no peito,
Volta para mim, faz teu o meu leito.
Diz-me o que hei-de eu fazer,
Sinto no tempo o meu tempo a morrer.
Quanto mais longe, mais perto de ti.
(Pedro Abrunhosa, Tempo)

2 comentários:

A voz disse...

Somos pequenos seres manipulados pelo tempo, como num jogo de estratégia...
Está sempre presente nas nossas vidas, embora haja momentos em que nos afecta mais...
É invisível, sorrateiro, quando menos contamos manifesta-se e deixa-nos nostálgicos...
Acho que foram mais as vezes em que desejei que o tempo passasse devagar...
A letra da música é linda, tal como a tua alma =D

Bjinhs

Anónimo disse...

"Diz-me o que hei-de eu fazer,
Sinto no tempo o meu tempo a morrer." - Vida controlada pelos ponteiros do relógio, cada passo orientado pela fúria desse tempo que magoa, trespassa e muitas vezes sem darmos conta nos deixa em becos sem saída... Diz a Nelly Furtado numa música: "Why do all good things come to an end?"... Visto da perspectiva do tempo, apercebemos-nos que esta é uma verdade bastante "verdadeira"... Mas também há a vertente boa desse tempo...aquele que é de qualidade,onde amamos, divertimos, fazemos alguém feliz com o nosso sorriso...infelizmente hj em dia, ninguém o valoriza... =( Mas aki onde estou fria e só, tu és uma das pessoas que me oferece esse tempo de qualidade... Obrigada! Belo texto, linda música! Beijo.