sábado, maio 08, 2010

Núvem cinzenta


Falam nas notícias de uma nuvem de cinzas a sobrevoar o espaço aéreo português, a impedir voos de descolarem, em resultado da actividade sísmica de um vulcão na Islândia.
Por momentos penso que algum orifício terá deixado entrar resíduos de cinzas na minha alma. Não pode voar, deixou de sonhar e encontra-se sentada num banco de aeroporto, a dormir em cima da bagagem, de olhos fechados. Há dias.

quarta-feira, maio 05, 2010

Eu sei que tinhas

Tinha de ser.
Nunca me pedes para fazer algo de novo. Tinhas que pedir hoje. Tinhas que me encher de alegria, de me levar à praia, de me fazer pedir um pingo de cevada só por pedir, só por pensar que querias, só por acreditar que era um dia diferente, um dia teu, um dia meu de folga como tantos, um dia para sorrir. Tinhas não tinhas?
Tinhas de me encher o peito de coisas boas, de expectativas grandes, de esperanças futuras. Tinhas não tinhas?
Para depois de eu falar, de eu rir, de eu dizer banalidades. Tu explicares o porquê. O porquê de tudo aquilo, o porquê do dia diferente, o porquê do pingo de cevada e da praia. E do acordar cedo num dia de Primavera.
Tinhas não tinhas?
Tinhas mesmo. Que me deitar abaixo. Me tirar o que nunca ninguém me deu.
Tinhas. Eu sei que tinhas.

Esperança. Para ficar.

Num dos meus mais recentes trabalhos jornalísticos, perguntava eu a dois actores de teatro qual a palavra que melhor definia a peça que acabavam de representar.
Sem hesitar, e com um sorriso rasgado no rosto, ambos me responderam: Esperança.
Tal como a mecânica do gravador para o qual falavam e que era segurado por mim, também eu gravei a palavra na mente sem conseguir deixar sair a pergunta seguinte.
Queria ter-lhes perguntado onde a encontraram e se ela lhes foi fiel. Se foi cara ou barata, se foi dada ou roubada. Se é fria ou quente, se bate na cara ou molha os lábios. Queria que me dissessem a que sabe quando é provada, se é como gelado de morango ou chocolate quente, se é amarga como as formigas que queremos provar quando somos crianças, ou doce como toda a nossa infância.
Mais do que saber onde mora, onde a posso encontrar ou qual o seu número de telefone, gostava que me tivessem dito se, quando existe, é real ou visivel, se é verde ou negra, se é eterna ou efémera.
Gostava também que me esclarecessem se vale a pena procurá-la, ou se devemos aguardar sentados que um dia ela nos bata à porta, para a recebermos de braços abertos, abrir-lhe o melhor dos vinhos, oferecer-lhe o melhor dos petiscos e deixá-la ficar. Se precisa de ser "comprada" ou a podemos vender ao desbarato a todos os que quiserem um pedaço.
Mas não fui capaz. Ficaram eles na certeza de que, em palco, conseguem transmitir a mensagem de Esperança. Fiquei eu na incerteza de saber se algum dia a vou encontrar. Para ficar.