Num dos meus mais recentes trabalhos jornalísticos, perguntava eu a dois actores de teatro qual a palavra que melhor definia a peça que acabavam de representar.
Sem hesitar, e com um sorriso rasgado no rosto, ambos me responderam:
Esperança.
Tal como a mecânica do gravador para o qual falavam e que era segurado por mim, também eu gravei a palavra na mente sem conseguir deixar sair a pergunta seguinte.
Queria ter-lhes perguntado onde a encontraram e se ela lhes foi fiel. Se foi cara ou barata, se foi dada ou roubada. Se é fria ou quente, se bate na cara ou molha os lábios. Queria que me dissessem a que sabe quando é provada, se é como gelado de morango ou chocolate quente, se é amarga como as formigas que queremos provar quando somos crianças, ou doce como toda a nossa infância.
Mais do que saber onde mora, onde a posso encontrar ou qual o seu número de telefone, gostava que me tivessem dito se, quando existe, é real ou visivel, se é verde ou negra, se é eterna ou efémera.
Gostava também que me esclarecessem se vale a pena procurá-la, ou se devemos aguardar sentados que um dia ela nos bata à porta, para a recebermos de braços abertos, abrir-lhe o melhor dos vinhos, oferecer-lhe o melhor dos petiscos e deixá-la ficar. Se precisa de ser "comprada" ou a podemos vender ao desbarato a todos os que quiserem um pedaço.
Mas não fui capaz. Ficaram eles na certeza de que, em palco, conseguem transmitir a mensagem de Esperança. Fiquei eu na incerteza de saber se algum dia a vou encontrar. Para ficar.