quarta-feira, janeiro 18, 2012

Enterro a tua memória

Enterro a tua memória sob a areia molhada e a relva verde.
Lembro-me de ti em nuvens de fumo ténue e às vezes ainda sorrio.
O bom que vivemos é, por vezes, o único sinal que te envio.
Mas, quando a recordação bate à porta e me diz que partiste
Reservo para mim a raiva eterna e assumo que fugiste.
Então enterro a tua memória sob a areia molhada e a relva verde.
Porque não gosto do passado nem daquilo que ele te fez
E não gosto do dia de hoje nem de tudo o que se desfez.
Se a tua memória vive e é conduta numa conversa
Então sinto sal na boca e fujo pela porta que deixaste aberta.
Peço-te que vivas no mundo que escolheram para ti
E que daí de cima guies o percurso que escolhi
Mas enquanto te nego e procuro sem te encontrar
Espero que fiques sempre no sítio onde resolvi te enterrar.
Então enterro a tua memória sob a areia molhada e a relva verde.

Desculpa, Avó. (18/01/2004)

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Grito

Quero.
Tanto que me doem as forças de tanto o querer.
E luto.
Luto tanto que de mim foge o futuro, com medo de me ter.
Ambiciono.
E vou à procura como quem perde a alma na paisagem .
Sonho.
E quase me acredito de que a sorte não passa de uma miragem.
Então procuro.
E nada é tão forte que me faça perder da vontade de ganhar.
E vou longe, fundo, como só eu sei
Na ânsia desenfreada de o conseguir desvendar.
Porque sou forte, acredito
E peço, e rezo e suplico.
E porque sou nada
Espero, resigno-me e no fim...
Grito.