sábado, agosto 20, 2005

Sopro de Saudade





É unicamente quando o mar ou a terra nos separam daquilo que consideramos, efectivamente, importante que nos apercebemos do que realmente significam para nós.

És cruel. Surges quando sabes que não posso evitar-te. Mas és ao mesmo tempo cobarde porque não vens só. Revestes-te de uma espécie de camada rígida e trazes contigo um turbilhão de sentimentos e emoções que se elevam ao quadrado a cada minuto que passa.

Longe, tudo se torna inalcançável. A certeza transforma-se na nossa mais temível dúvida e aquilo que considerávamos real perde todo e qualquer contorno que se possa considerar verdadeiro.

Os sentimentos alcançam proporções desmedidas. As dúvidas desfazem-se quando até precisavamos que existissem para que pudessemos pensar nelas de cabeça fria. As certezas perdem as suas raízes e começamos a valorizar aquilo que deixamos para trás e ao qual não davamos qualquer importância.

Apercebemo-nos de que a nossa existência só dá fruto quando em contacto com as nossas verdadeiras raízes. Raízes essas que nos recusamos a regar quando possuímos capacidades para tal. Mas agora que o vento nos empurrou de encontro a uma realidade que não conhecemos, que teremos que lutar para a descobrir, lamentamos esse afastamento cruel, essa desconexão dura que acabará por nos ensinar a viver.

Saudade que vens com a maresia que penetra o meu olfacto, que me surges na noite mais escura e que me obrigas a desejar nunca ter saído de onde realmente pertenço.

Quero matar-te sem encontrar arma com a qual o fazer.

Submeto-me, então, a ti e por entre lágrimas e frustrações lamento o teres aparecido na minha vida quando menos precisava, amaldiçoo a tua existência e almejo o dia em que o sol brilhará só para mim, sem a sofreguidão do teu sopro.

4 comentários:

Monique Mendes disse...

Belissimo texto!
A verdade é que só damos o real valor às pessoas e coisas que amamos quando elas estão longe de nós ou quando as perdemos! nessa altura percebemos que não conseguiriamos sobreviver sem elas...
Eu vou sofrer com essa saudade durante as próximas semanas quando uma pessoa que gosto muito tiver muito muito longe de mim! Enfim...nada como o reencontro, a saudade e a distância mostram-nos que é aquilo que realmente queremos!
Beijinhos grandes**

Cristiana disse...

Não desanimes Monique. A distância serve para reforçar aquilo que existe de bom. E nunca te esqueças que não ha nada melhor do que o reencontro para esquecermos aquilo que a separação nos fez lembrar de mau.
E qualquer coisa que precises sabes sempre com quem podes contar!
Bjinho e obrigada pelo comment.

Sílvia disse...

Oix linda!Lindo post!
Pois é, nos so realmente damos valor ao que temos quando...ja não temos!Ou pelo menos, ja não perto de nos...Mas isso é bom, sabes.
So assim é que conseguimos tornarmo-nos fortes!E aprender a viver, porque longe ou perto dakeles que amamos, o certo é k temos de continuar a percorrer o nosso caminho, enfrentando vento, tempestades,e ..saudades!

Anónimo disse...

Sim, provavelmente por isso e