sexta-feira, março 30, 2007

Folhas caídas no coração


Sinto que o que tinhamos começou a perder-se ao longo do tempo, como as folhas das árvores que caem lentamente no Outono e se espalham, por fim no chão.


Há um fio de vento que ninguém sabe de onde vem, porque ninguém o sente senão eu. Nem tu.

Penso que alguém o soprou só para mim, que todas as portas se fecharam e apenas uma janela ficou aberta para fazer a corrente de ar subir e atingir-me as costas, perfurar-me os pulmões cansados e atingir-me como um punhal.

Um punhal que fura mas que não mata. Que corrói mas que não faz sangrar. Que não se sente mas que atinge, magoa e me faz suspirar as folhas caídas no chão.

"Antes que venha o Inverno e disperse ao vento essas folhas [...] que por aí caíram, vamos escolher uma ou outra que valha a pena conservar, ainda que não seja senão para memória", dizia o Garret nas "Folhas Caídas".

Folhas de árvore, longe das folhas de papel. Que não rasgam e que às vezes são verdes ou castanhas. Mas são sempre leves, sempre soltas e livres.

Olho para o chão e apenas vejo pedaços folhas castanhas. Mortas. Ou estarão simplesmente a dormir? São folhas, caídas, adormecidas no chão.

Será que ainda vamos a tempo de as apanhar e colar nos ramos vazios?

Ou será no meu coração?

sexta-feira, março 09, 2007

Cansada


"Tudo me corre mal", é a frase que mais tenho proferido. Sabem o que é sentir que a vida nos vira as costas? Que alguém se esquece de nós e nos tranca o caminho da sorte?

Nem sei se tenho vontade de chorar ou de rir, mas supero-me ao mostrar aos outros a face que não consigo ver.

Aparento a alegria que não tenho, a satisfação que há muito não sinto e a companhia que preciso quando todos me abandonam.

Não estou só, mas sinto falta. E essa é a maior dor que se pode sentir. Olhar em redor, ter tudo e ao mesmo tempo não ter nada.

Ter dias que correm ambíguos, acontecimentos que se atropelam em marés de azar, tristeza que aumenta a olhos vistos e falta de uma alegria para me confortar.

"Estás cansada", disse-me hoje a minha mãe. Sim. Cansada da vida, cansada do desassossego, das desilusões constantes e cansada de parecer alegre.

Mas sinto que algo me escorre pelos dedos e não o consigo agarrar. Talvez não mereça, mas hei-de ganhar forças para continuar a tentar.