sábado, abril 26, 2008
Facada
Há quem lhe chame efeito bola de neve.
Eu prefiro encará-lo como uma aprendizagem. Uma pancada dolorosa, uma faca que espeta mas não faz sangrar. Aliás, várias.
Vários golpes que vão ficando e não sarando como uma chaga aberta que não sangra, não endurece, não cura.
Com o tempo dizemos que a esquecemos, que já passou, que não existe. Mas o tempo ensina-nos a fechá-la por fora sem que a curemos nas raízes. Ficará para sempre aberta por dentro, eternamente a escorrer o sangue do desgosto ainda que não nos arda como antigamente.
Um dia irei olhá-las e dizer que me ajudaram a crescer.
Por agora resta-me tratá-las para que não infeccionem. E acreditar que amanhã estarão curadas. Elas e eu.
(foto)
sexta-feira, abril 18, 2008
Beem! Que surpresa...
You Act Like You Are 15 Years Old |
You are a teenager at heart. You don't quite feel like a grown up yet, but you don't feel like a kid. You question authority and are still trying to find your place in this world. You're quite rebellious, and you don't like being told what to do. You like to do things your way. You have your own unique style, taste in music, and outlook on life. |
terça-feira, abril 08, 2008
O Bolo da Vida
A minha mãe ensinou-me que quando fazemos um bolo e queremos que ele cresça e fique "fofo", há uma técnica especial que não deixa enganar.
É saber separar a gema da clara, colocando-as em recipientes diferentes.
Mas a vida ensinou-me que, se eu quiser crescer em paz, sem que todos os dias tenha que passar por situações de sofrimento com aqueles que penso que me querem bem, devo fazer este exercício de separação da gema da clara.
Num recipiente pequeno coloco as gemas, com muito cuidado para que não entre nem um pouco da parte transparente do ovo. Porque, às vezes, um pequeno pingo de maldade é suficiente para estragar aquilo que há de bom.
Acima de tudo há que analisar bem aquela bolinha amarela. Eu tenho muito receio com o ovo, inclusive aboli esse alimento das minhas refeições. Mas quando se trata de fazer a escolha da vida, há coisas das quais não podemos abdicar e há riscos que temos que correr.
Então, a pequena tigela vai recebendo algumas gemas de ovo. Umas maiores, outras mais pequenas mas, ao seu jeito, todas elas me farão saudável e irão contribuir para que o bolo se torne bem compacto.
Olho para a pequena tigela e vejo-a tão vazia. Mas será que aquilo que realmente importa é assim tão pouco?
Do outro lado, no grande recipiente onde coloquei as claras, quase não sobra espaço para mais nenhuma. Sei que o meu bolo ficará bem grande e fofo. Sei que irá crescer mais do que a forma onde o vou colocar. O calor fá-lo-á enorme, aparentemente bom e suculento. Mas... e o sabor?
Terão sido aquelas poucas gemas suficientes para lhe dar sabor? Será este alimento suficiente para me alimentar ao longo da vida?
Para isso é que existem as claras. Bati-as em castelo para que crescessem ainda mais. Juntei-as ao preparado anterior e o resultado foi excelente.
À primeira vista o aspecto é fantástico, delicioso, irresistível. Provo as fatias uma a uma, ao longo dos dias e da vida. Sei que as claras fizeram da minha vida aquilo que ela é. Mas, no fundo, não esqueço que o importante sabor e cor foram dados pelas gemas do ovo que, com tanto cuidado, separei.
É para isso que servem as pessoas e as coisas acessórias da vida. Tal como as claras do ovo, batemo-las em castelo, embelezamo-las e criamos a ilusão de que são elas que dão alegria ao nosso dia-a-dia.
Tudo não passa de uma ilusão. Porque o amarelo que dá realmente cor à nossa existência é tão pequeno que quase nem nos lembramos dele. Mas é tão importante que, quando aprendermos a separar a gema da clara, iremos atingir o estado de perfeição e ninguém será capaz de nos superar na excelente tarefa de fazer o bolo da vida.