Ao meu irmão
As férias foram assim...
Submersas entre palavras soltas, ventos de leste e o Mar Mediterrâneo.
O cascalho da areia confunde-se com as peles brancas que anseiam bronzear.
Precisava de descansar, de repousar e de pensar.
Nada do que previ acabou por acontecer porque estava, de facto, cansada...
Não quis pensar, não quis reflectir nem ansear.
O que será, será. O que estiver para vir, que venha...
Hei-de encontrar forças para o enfrentar, hei-de saber acordar deste estado de imersão onde me encontro...
Pela primeira vez, em muitos anos, só li um livro durante as férias.
Um livro que me ocupou mais de dez dias de reflexão. Que entrou na minha vida quase por acaso, que foi dando um novo sentido aos passeios de terceira idade a que fui forçada a ir durante o mês de Julho.
Nesses dias fui conhecendo a história fictícia de Francisco Lázaro. Poucos se lembrarão dele.
Há coisas que surgem na vida por acaso mas, ao longo do percurso, começam a fazer sentido de uma forma tremendamente alucinante.
À medida que conhecia a história de um jovem maratonista e entrava em todos os pensamentos que o José Luís Peixoto lhe imaginou durante a prova dos Jogos Olímpicos de Estocolmo em 1920, fui imaginando o meu irmão a lutar pelo sonho que agora concretizou.
No dia em que os Jogos Olímpicos de Pequim estreavam, também a notícia que todos esperavamos mas ninguém queria receber, acabaria por surgir.
Terminar as férias mais cedo não foi nada comparado com o final trágico do Cemitério de Pianos.
Que orgulho que eu tenho em ti. Oxalá algum dia alguém possa sentir por mim aquilo que vai cá dentro...