Detesto frases feitas, mas porra. Fazes-me falta.
E tanta que podia gritar ao mundo que odeio saber que a solidão se aninha aos meus pés nas noites frias, nos dias serenos, quando o barulho aqui à volta é tão abafado que parece o som do comboio da Granja em dias de tempestade. Falo com ela. Digo-lhe que sei viver sozinha, que sei trabalhar sem o teu apoio, que sei chegar ao fim do dia sem falar contigo, sem te dizer que "está tudo bem" e ouvir o teu silêncio. E gostar dele. E rir-me dele. E ouvir-te rir do lado de lá. Ou barafustar. Ou então odiar o teu lado de mundo perdido, de mundo partido, de mundo traído. O teu lado tão real e tão cruel de vida injusta, de vida ingrata, de vida durida.
E falo com ela. Com a solidão. Porque quando tu não estás é ela quem me faz rir. É ela quem lancha comigo e me chateia por comer tantas bolachas. É ela quem gosta de mim pela manhã, com cara de sono. É ela quem me arruma os cabelos, me beija a testa e me diz que não gosta de mim com um sorriso trocista e doce e os olhos a cintilar. Quando tu não estás é ela quem me pede para conduzir, porque está com preguiça, é ela quem me diz que chega cedo pela manhã e aparece só depois das 11h. É ela quem me fala de planos pontuais e os desmarca no momento exacto.
Sabes. É ela quem me ouve a dizer que odeio o que faço, que odeio ser submissa, que odeio viver os dias como noites e as noites como infinitos.
Quando tu não estás acho que é ela quem me faz feliz. Porque a felicidade depende do aqui e do agora. E, se tu não estás, é ela quem me ensina a amá-la. Tanto mas tanto ao ponto de já não duvidar da falta que me fazes.
segunda-feira, outubro 18, 2010
segunda-feira, outubro 11, 2010
Medo
Hoje acordei quando a manhã ainda era uma criança. Ainda mal os primeiros raios de sol se avistavam, ainda as primeiras vidas acordavam para o primeiro dia da semana.
Acordei com o coração saltitante e o frio na barriga que senti outrora, em momentos especiais que me faziam medo.
Sempre lidei mal com a novidade, o desconhecido, o medo. O medo da dor, o medo de errar e o medo de falhar.
Não sei qual destes dois me aperta mais o estômago, mas se os últimos poderão ou não depender de mim, está certo que o primeiro de todo não dependerá. Por isso acho que, por exclusão de partes, é esse o que mais me assusta. O medo da dor.
E pronto. Estou com medo. Acho que não o sentia nem o admitia há demasiado tempo, quando as mãos eram pequenas e o coração enorme para tanta vida. Agora as mãos são maiores e a vida mais curta, o coração apertado já quase não tem espaço para mais sonhos, que entram e entram e nunca saem.
Porque eu nunca desisto, e eles nunca se realizam. Então vão ali ficando, como num frigorífico gelado de recordações e vontades, num canto esquecido mas sempre lembrado do esquecimento à espera que um dia ganhem asas e voem. Aquelas asas que nunca me disseram onde se compram.
Porque se dissessem, eu ia lá, juro que ia. Sem medo. E sem frio na barriga.
Acordei com o coração saltitante e o frio na barriga que senti outrora, em momentos especiais que me faziam medo.
Sempre lidei mal com a novidade, o desconhecido, o medo. O medo da dor, o medo de errar e o medo de falhar.
Não sei qual destes dois me aperta mais o estômago, mas se os últimos poderão ou não depender de mim, está certo que o primeiro de todo não dependerá. Por isso acho que, por exclusão de partes, é esse o que mais me assusta. O medo da dor.
E pronto. Estou com medo. Acho que não o sentia nem o admitia há demasiado tempo, quando as mãos eram pequenas e o coração enorme para tanta vida. Agora as mãos são maiores e a vida mais curta, o coração apertado já quase não tem espaço para mais sonhos, que entram e entram e nunca saem.
Porque eu nunca desisto, e eles nunca se realizam. Então vão ali ficando, como num frigorífico gelado de recordações e vontades, num canto esquecido mas sempre lembrado do esquecimento à espera que um dia ganhem asas e voem. Aquelas asas que nunca me disseram onde se compram.
Porque se dissessem, eu ia lá, juro que ia. Sem medo. E sem frio na barriga.