Abro a gaveta e procuro memórias passadas.
Há fotografias, blocos de notas, medalhas, porta-moedas. Há um número infinito de coisas que se atropelam, se escondem e se tapam umas às outras como folhas secas e verdes no final do Verão. Há sorrisos escondidos, laços perdidos, restos de músicas velhas. Há palavras rasgadas, agendas acumuladas, óculos de olhos que não vêem.
Na vida, como nas gavetas que tenho no quarto, também as memórias são muitas, também os bens mais do que imensos, também a vontade de os rasgar e desfazer mais do que forte. Também as velas ardidas queimam o coração, também as canetas perdidas escrevem uma canção, também as moedas esquecidas perdem valor.
Mas na hora de avaliar para que servem, na hora de pensar se as quero preservar, na hora de dançar ao som do vento e as atirar para longe... não as largo, não as perco, não as deixo voar.
Porque de inúteis têm tanto como de minhas. E de rastos do passado são mais do que valiosas.