quinta-feira, agosto 31, 2006

Conto de Fadas


Pego no lápis de cor e desenho um sol amarelo que enche de alegria o ar, uma nuvem azul e um pássaro cor de mar.
Em baixo, os campos são verdes e a minha casa é branca como a neve, o telhado encarnado deixa escapar a pequena chaminé inclinada pelo fumo que dela sai ao de leve.
Há flores, ervas e uma árvore de frutos vermelhos. Pergunto-me se poderei comê-los e o desejo trai-me quando arranco a pequena maçã do ranco. É fresca e ácida, mas estranhamente não me cresce água na boca. Aprecio e gosto. Sorrio e rebolo no chão.
O meu vestido é cor-de-rosa com muita roda, os meus cabelos estão clareados pelo sol e ondulam com a brisa que mos penteia. As meias brancas tocam-me ao de leve os joelhos alvos e os meus pequenos sapatinhos são rosa, da cor do vestido que hoje trago.
Não há chuva nem vento, tempestade nem tormento. Aqui, tudo é rosa e azul bebé...
Há um cavalo branco que montas e conduzes a trote até mim. Entao ajudas-me a subir e a montar como "uma senhora", com ambas as pernas arrumadas ao lado esquerdo.
Partimos em direcção ao teu castelo feito de por-do-sol e nuvens douradas.
Aí somos só nós, numa história de conto de fadas...

segunda-feira, agosto 21, 2006

Antropologicamente Falando


De entre muitos pensamentos que me invadem e que merecem ser transcritos no meu blog, o surgimento desta ideia pode dizer-se que veio do nada. De um nada preenchido de pessoas, de seres que, de uma maneira ou de outra, me marcaram e continuam a marcar a cada dia que passa.
Todos conhecemos um número infinito de pessoas. Já tentaram recordar-se de todas e de as contar? Eu diria que tal é impossível. Na verdade, são tantas as que passam pela nossa vida e que deixam alguma coisa (ou mesmo que nem deixem nada) que são pouquíssimos os dedos das mãos que nos permitam contabilizá-las. A propósito do facto de essas pessoas nos darem ou não alguma coisa, eu acredito que muitas vezes não temos noção do quanto elas nos dão. Mesmo que pensemos que não nos deixam nada de importante, o erro reside em pensarmos em tal. Um sorriso, um olhar, uma palavra mesmo que rude, tudo isso são presentes que o destino coloca no nosso caminho para nos lembrar que não estamos sós e que onde quer que vamos, seja qual for o caminho que escolhermos, estará sempre alguém, nem que seja no fundo do túnel, quando pensamos que ultrapassamos o pior sozinhos e que já não necessitamos de ninguém. Pois enganamo-nos: precisamos sempre mais dos outros do que nós próprios imaginamos.
E porque normalmente as nossas recordações não têm cor, penso que esta imagem é o melhor que a minha mente pôde fotografar...

sexta-feira, agosto 18, 2006

Recordando...

Incrível o poder que detém a música ao ponto de ser capaz de transladar o nosso corpo e alma para um oriente desconhecido, desprovido de qualquer ligação terrestre. Ganhamos asas e desconectamo-nos do mundo real. Ali somos só nós e os nossos pensamentos, dispersos numa imensidão de emoções...
É este o poder do som. A acústica penetra o tímpano mais imune e percorre as veias frias que logo escaldam a alma mais distante.
Admirável a capacidade de evasão que ela nos proporciona. Por isso eu decidi viver por ela. Entrego-me a ela a cada acorde solto, a cada nota desgarrada à profundidade do sentimento que causa. Faço-o porque sei que me torno melhor a cada cadência, porque o meu coração marca o compasso calmo e certo da batida por que se rege.
Apreciar uma música passa pela liberdade de evasão proporcionada pelas palavras que nos canta, mas também pela penetração na sua essência até ao mais profundo acorde, à mais tímida escala que se solta pianinho por detrás do pano...
É assim a música: indescritível, dotada de poderes supremos que somos incapazes de compreender. Apenas o entendo quando aprecio bem fundo o dom que só alguns possuem de, com o próprio coração deixarem soltar uma conjugação de notas que tornam o nosso ouvido sensível à sua beleza e que são capazes de transformar a nossa vida em algo bem mais interessante.
E porque uma música é capaz de mudar muitos momentos, deixo aqui a letra de uma que mudou as minhas férias e, quem sabe, os meus dias, enquanto os houver...


Para tu amor
Juanes

Para tu amor lo tengo todo
Desde mi sangre hasta la esencia de mi ser
Y para tu amor que es mi tesoro
Tengo mi vida toda entera a tus pies
Y tengo también

Un corazón que se muere por dar amor
Y que no conoce el fin
Un corazón que late por vos
Para tu amor no hay despedidas
Para tu amor yo solo tengo eternidad

Y para tu amor que me ilumina
Tengo una luna, un arco iris y un clavel
Y tengo también
Un corazón que se muere por dar amor
Y que no conoce fin
Un corazón que late por vos
Por eso yo te quiero tanto que no sé como
explicar lo
Que siento

Yo te quiero porque tu dolor es mi dolor
Y no hay dudas
Yo te quiero con el alma y con el corazón
te venero
hoy y siempre gracias yo te doy a ti mi amor
por existir

para tu amor lo tengo todo
lo tengo lodo y lo que no tengo también
lo conseguiré
para tu amor que es mi tesoro

Tengo mi vida toda entera a tus pies
Y tengo también...

domingo, agosto 13, 2006

Tears and Rain


Aqui os dias são perfeitos, coroados de sol e luz, sal e calor.
Aqui os raios brilham na clareza dos corpos dourados, na frescura das ondas que vêm e vão e nunca se acabam.
Aqui tudo começa onde a minha solidão termina. A areia estende-se no manto interminável dos dias que são um fio sempre igual, sempre fino e delicioso porque são dias, que começam ténues e claros e terminam doces, brindados de açúcar e gelo e música...
Aqui há uma varanda com vista para o mar, há uma onda que surge de entre o betão erguido ao céu, robusto e escuro, rasgando a celestidade do céu.
Aqui há Eça de Queirós, há sorrisos e diversão...
Saudade... Aqui há algo que não está, há algo que ficou e a reacende a chama do regresso.
Mas aqui há "tus", há "eus", há "nós"... Um "nós" que não conheciamos...
Um olhar na eternidade, um beijo na intimidade, um sorriso de felicidade...
Aqui, tudo o que não temos "...is just tears and rain..."