quarta-feira, dezembro 27, 2006

Não Consigo


Devia ver-te, diz-me a consciência.
Devia ter a oportunidade de te dizer adeus ou simplesmente um olá, quem sabe.
Devia sorrir para ti, pegar-te na mão ténue e dizer-te "estou aqui".
Mas não consigo.
Sei que se te visse, não te veria a ti, mas a algo que de ti se tomou.
Sei que se te enfrentasse dar-te-ia a parte mais fraca de mim, aquilo que até o tempo te roubou.
Sei que se te olhasse seria pela última vez.
E não consigo.
Apodera-se de mim a cobardia dos que perdem a coragem
Perco tudo aquilo que nos ensinou que a vida é, de facto, uma passagem.
Fazes-me pensar que tudo pode escapar-nos pelos dedos, pode roer-nos a corda do destino, pode roubar-nos a felicidade, a riqueza, a família e a nós mesmos.
Não consigo.
Imagino aquilo que já não és.
Sonho com aquilo que de ti conheci.
Mas não consigo despedir-me de ti.

domingo, dezembro 24, 2006

O Homem dos Sete Instrumentos

Aqui está um exemplo de como, com as nossas mãos, conseguimos fazer muito mais do que o que imaginamos.



Feliz Natal para todos

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Porque é Natal


Porque é Natal, andamos felizes.

Porque é Natal, temos pena daqueles que são menos do que nós, que não têm um lar nem têm uma presente para dar.

Porque é Natal, assistimos a programas de televisão decadentes, com crianças que sofrem todo o ano, mas só agora decidimos dar-lhes atenção.

Porque é Natal, choramos a partida dos que já estiveram connosco.

Porque é Natal, damos dinheiro aos pobres, aos menos pobres e mesmo àqueles que são mais ricos do que nós.

Porque é Natal, perdoamos tudo. Ofendemos os outros sem pensar, mas passado uns minutos esquecemos e damos a desculpa de que "É Natal".

Porque é Natal, tudo nos parece mais bonito. Damos valor às pequenas coisas, andamos sensíveis e damos mais de nós do que em qualquer outra altura do ano.

Mas o Natal passa. O Natal é um dia, umas horas um momento do ano.

E nos restantes momentos, que fazemos nós?

Somos indiferentes aos outros, não temos desculpa para passar por cima deles, não temos uma prenda para lhe dar porque afinal... Não é Natal!

Há quem diga que Natal é quando o Homem quer. Eu diria que o Homem não quer que seja Natal. Esse Homem que sou eu e são todos vocês devia sentir vergonha.

O Natal são todos aqueles momentos que partilhamos com quem gostamos. São as pequenas coisas que nos dão e nos alegram tanto: os sorrisos, as cumplicidades, a companhia...

Pena que isto jamais vá mudar. O Natal vai ser sempre agora, neste dia, para todo o sempre.

E não me venham com falinhas mansas: o Homem não quer que o Natal seja noutro dia. O Natal é agora e nunca mais.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Uma janela aberta

Todas as pessoas que passam na nossa vida são únicas por simples razões.
Além de exclusivas, são também insubstituíveis e completamente incomparáveis.
Mas, por vezes, a vida afasta de nós muitas dessas pessoas. Porque existem caminhos a seguir, porque existem metas a alcançar e porque existe sempre um fim.
No entanto, quando uma porta nos é fechada, existe sempre uma janela a abrir-se diante de nós. Por vezes somos nós que não a queremos abrir, que temos medo de afastar as cortinas e de respirar o ar puro que vem de lá de fora.
Aprendemos a viver assim, com a vida e sem as pessoas que sempre foram importantes para nós. Algumas, mesmo que não partam deste mundo, deixam de estar presentes no nosso dia-a-dia, porque nem sempre os sonhos são fáceis de alcançar.
Foi esta a vida que escolhi: desprender-me de tudo o que me ligava afectivamente às minhas raízes.
Mas querem saber a melhor?
Quando olhei para a janela que se abriu diante de mim, não tinha uma mãe, não tinha um pai nem um irmão, não tinha um avô... nem um Daniel... Esses tinham ficado para trás a ver-me partir.
Mas tinha um dom, uma mão cheia deles: aquilo a que podemos chamar o verdadeiro amigo.
Aqueles que não substituem uma família, mas que verdadeiramente a são. Os laços de sangue podem não-nos unir, mas sabemos que estamos juntas venha o que vier. Vivemos as dores umas das outras e adoecemos quando a melancolia nos abate.
A todas elas deveria ter um "obrigado" a dizer.
Mas, pelo contrário, tenho a promessa que eternamente lhe estarei grata por não me terem deixado só quando pensei que só a mim me teria por companhia.
Esta é a janela que dá para o mundo que tive de enfrentar. Que foi duro, mas torna-se mole quando temos braços que nos podem aguentar.