Ouvem-se três pancadas no chão seco e de madeira velha. Não há luz e uma cortina azul, de pano grosso e velho, começa a correr em frente aos meus olhos. O cheiro a antigo e a mofo invade-me as narinas turvas, os olhos enevoados abrem-se e enfrentam o ângulo frontal. A sala está cheia. As caras são conhecidas e únicas. Não há palmas. Há silêncio.
O pânico é mais forte do que as tremuras das pernas que deixei de sentir, os sussurros começam a roubar-me a mente concentrada e, por fim, a primeira palavra sai.
Tento arrancar sorrisos, tento fazer rir. Não resulta. Tento fazer chorar, fazer sentir. Não funciona. Lanço frases longas, duras, abstractas. Palavras perdidas, atiradas, insensatas. Gemidos fortes, inaudíveis, em placas. Lanço-me, enfim, num chão perdido e sem fim, sem buracos e sem pó. Sem existência viva ou real.
"Afinal, o que querem de mim? Estou a representar".
"Pedimos-te uma farsa e tentas levar a vida em comédia, em drama ou por acaso. Estás despedida".
Querem que a minha vida seja uma farsa.
Apresento a minha carta de demissão à companhia teatral que julga orientar-me.
Foto: aqui
1 comentários:
Que a tua vida seja tudo menos uma farsa.
beijinho*
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