Detesto jogar cartas, mas sinto que, às vezes, a vida me desafia para jogar contra ela.
Como não sei distinguir trunfos de biscas, nem cenas de duques, pergunto-lhe se não posso, em vez disso, fazer um castelo de cartas.
De sorriso manhoso, ela responde que sim. E até me vai ajudando a erguer, uma por uma, em triângulos de copas e espadas, o meu castelo.
Durante largos dias, por vezes meses, tempos infinitos de ilusão, o meu castelo vai ganhando consistência. Primeiro ténue, quebradiço e inseguro, mas, com o tempo, as cartas vão-se sucedendo em sequências lógicas, em pequenas construções seguras, em ilusões que começam a ganhar sentido.
Quando não sei se devo continuar a construí-lo, quando não sei qual a carta que sucede, quando não sei se vale a pena continuar, é ela, a vida, que do outro lado da mesa me incentiva, me diz "não desistas" e até me compra um novo baralho, para me levar a continuar.
E continuo.
Chego, finalmente, ao fim. Ao fim do tempo, ao fim do meu castelo de cartas, ao fim de dias imensos de crenças e de ilusões. E quando me preparo para colocar a última carta que, por sinal, é o ás de copas, eis que uma rajada de vento, que mais parece um sopro, abala por terra todo o meu trabalho de meses, de dias, de anos. Com o meu castelo de cartas caem todas as minhas seguranças, as minhas ilusões, os meus alicerces. Com ele, cai também a minha vida que, prostrada no frio do chão, ri à gargalhada da ilusão que foi criando em mim.
Foi ela, a minha vida, quem soprou com desdém, a minha construção de sonhos e ilusões. O meu castelo de cartas.
Talvez devesse ter jogado com ela à sueca.
Foto: aqui
1 comentários:
Estou sempre a torcer por ti!
Nunca esmoreças e nunca desistas!
Adoro-te*
Beijinhos c mts saudades*
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