sexta-feira, setembro 24, 2010

Dúvida


Chegas e não bates à porta.

Entras, fria e distante e sentas-te. Sorris.

Ali mesmo, junto a mim, à minha secretária feita de sonhos e ilusões, coisas doces e noites boas.

Não falas nem vês. Só escutas. Só olhas. E o teu olhar é tão penetrante e atroz que me congela os dedos. Não posso escrever mais. Impedes o meu raciocínio de arrancar. Atrofias, por fim, toda a máquina que me faz produzir.

Então páro e finalmente evito mais o ter de te ignorar.

Falas comigo em linguagem de amor, de vida, de crueldade. Falas de mim, do meu passado, do meu presente. Bebes água porque não te queres deixar embriagar e atiras para o ar a arma que sabes que me deixará no chão.

Dizes adeus e sorris, com o mesmo sorriso que me atiraste no momento em que entraste. Só que agora sei do que te ris, sei do que troças, sei o prazer que te dá ver-me só.

Fecho-te a porta com raiva doce, com lágrimas de sal e com sapatos de veludo.

Ali, na cadeira onde te sentaste, que tem rodas e é fria como a Serra da Estrela em Janeiro, sentou-se o meu futuro. O presente que me deixaste. Queres que fale com ele e lhe pergunte se quero que fique.

Mas não quero. Nem falar, nem deixá-lo ficar. Quero que parta contigo e me deixe sozinha. Eu sei que ele já não é o meu melhor amigo. O Futuro.


Foto: aqui

1 comentários:

Sandrinha disse...

Sabes uma coisa, Cris? Essa menina tem visitado muitas vezes o meu quarto tb. E deixa-me o mesmo "presente" que te deixou.
Não sei o que lhe fazer. Se souberes como lidar com isto, diz-me.
Até lá, conta com a minha amizade e a certeza de que, mesmo à distância, não me esqueço de ti.
Beijinho mt grande*