Às vezes acho que é tão fácil ser feliz que embirro com o mundo e lhe viro as costas.
Zangada com ele, bato com a porta, atiro-lhe palavras más e grito em barafustos mudos dores minhas e dele.
Sento-me no chão, deixo as lágrimas caírem em lenço vazio, que é branco como um manto de neve e frio como os dias amargos de Outono. Faço tanta força nos olhos e nos lábios que as rugas que não tenho, mas que me marcam o coração, denunciam espasmos de velhice, rastos de um cansaço latente de quem ainda quase nada viveu.
Ainda no chão, sou só. Imagino-me despejada de desejos, branca de ilusões e atiro contra o vidro os sonhos que criei. Lá fora, o mundo virou-me as costas. Do lado de lá da porta que bati e não abri, sei que continua prostrado, magoado com as minhas palavras duras. Mas não volto atrás. Não me arrependo, não esqueço o rancor e não apago a amargura.
Lá fora, onde está o mundo e onde a minha vida se estende para lá do paraíso que não conheço, sei que também lá está a felicidade. Aquela fácil e que podia estar ao alcance de um beijo mudo, de um toque exímio, de um suspiro.
Mas que não depende de mim. Por isso, mundo, se algum dia te lembrares que aqui dentro há um coração que bate triste e chora desilusões, não te esqueças que ela ainda me espera. E é tão fácil trazê-la cá. A felicidade. Aquela fácil. Aquela que depende de ti.
1 comentários:
Ai como me identifico, Cris. :( As palavras, as tuas palavras são sempre uma doce melodia, ainda que por vezes seja triste.
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