segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Legos. Lembro-me deles?


Lembram-se dos Legos?

Eram peças amarelas, vermelhas, azuis, brancas e pretas. Sozinhas não valiam nada, mas juntas eram capazes de transformam uma autêntica confusão de pedaços de plástico em construções inimagináveis e admiráveis. Eram infinitas, coloridas e tão engraçadas...

Eu tinha um balde inteiro cheio delas. Entretinha-me horas sem fim a dar-lhes um sentido. Nunca os pedaços soltos me deram rigor. Sempre gostei de dar um sentido a tudo na vida.

Tinha 3, 4, 5 anos. Tinha capacidade de construir coisas, de edificar sonhos, de impedir que se destruíssem.

Passaram quase 20 anos. A caixa de legos espera-me, num canto bem guardado da minha casa e hoje penso se ainda terei capacidade para a reconstruir. Farão, hoje, aquelas peças algum sentido para mim? Serei ainda capaz de evitar que as destruam?

Os meus sonhos, hoje, morrem à nascença. Matam-nos sem que tenha tempo de criar um escudo de legos que os protejam. Calcam-nos sem que tenha tempo de chorar ou barafustar por derrubarem o meu trabalho de horas, de anos. Os meus sonhos, hoje, são como os legos que se espalham pelo chão da sala de estar e se escondem por debaixo dos sofás, que a minha mãe só encontra quando vai aspirar. Só a minha mãe encontra os meus sonhos perdidos, debaixo do sofá, carregaos de pó.

Os meus sonhos, hoje, podem ser aspirados por outros e não apenas por mim. Os meus sonhos são como os legos que hoje se constroem. Trazem livro de instrução em linguagem uniforme. Têm regras para serem cumpridos, podem ser lidos por todos. Podem ser meus e dos outros. Não podem ser só meus.

Hoje, os legos não são universais. São grandes e pequenos mas não encaixam naqueles que aguardam há anos na velha caixa vermelha em cima do roupeiro na despensa de minha casa. Não encaixam. Não fazem sentido.

São velhos sonhos adormecidos no canto da minha memória.

2 comentários:

Sandrinha disse...

Éramos tão felizes quando tínhamos o poder de realizar os nossos sonhos. Quando isso dependia (quase) exclusivamente de nós. E os legos, tal como outros brinquedos, permitiam-nos construir e desconstruir os nossos desejos, vontades, ambições.

Crescemos e tudo muda, até os legos!

Hoje a concretização dos nossos objectivos depende (quase) exclusivamente de outros.

Será devido à mudança de tempos?

Haja esperança...

Beijinho Cris*

Monique Mendes disse...

Parace que quando mais "crescemos" mais dependentes nos tornamos... e no entanto pensa(va)mos que deveria ser exactamente ao contrário...

Beijinho :*