quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Só quem os tem percebe do que falo

A minha casa é grande como o sol. No pátio, há jardins e árvores com flores que nascem na Primavera. Os raios são quentes no Inverno frio e as sombras são refrescantes quando o calor do Verão aperta.

É o meu habitat natural. Sempre aqui vivi. Vi, de perto, as transformações que sofreu. De casa agrícola, velha e desconfortável, foi-se tornando, ao longo dos anos, num lugar onde dá gosto viver. Diria que é digna de ser vista, digna de ser admirada. Como já disse, é grande. Tão grande que só poderia dar felicidade a quem nela vive.

Desde pequena que ouço outros dizerem que a casa é tão grande e tão espaçosa que podia dar felicidade a um animal de estimação. Um cão. Nunca me interessou. Eu até corro de medo quando vejo um. Por vezes, na ternura da infância, costumava imitar um cão solitário e choroso, fazendo pequenos rugidos e sons de lamúria deitada no chão.

"Oh pai! Gostava de ter um cãozinho". A resposta sempre foi negativa, mas para ser sincera também nunca me incomodou muito. No fundo, não sabia se realmente gostava daquilo que pedia. Acho que, na verdade, não o queria.

Foi numa das fases de crescimento da minha casa, quando os quartos passaram de velhos e muitos para poucos e luxuosos que me mudei para Braga. Foi lá que comecei a contactar com animais, nomeadamente com o gato de uma grande amiga que Braga me deu.

Era isso. Acho que queria um gato. E o gato apareceu na minha vida. Estávamos em Junho de 2006 e era véspera dos meus anos.

O Leo apareceu para nunca mais me deixar.


Medo

Acredito que os animais têm o seu mundo, que é compatível com o nosso, mas que não é completamente conciliável com o nosso. A irracionalidade deles sobrepõe-se à nossa racionalidade na altura de se separarem as coisas. Porque nós queremos que eles nos percebam e nos obedeçam. Porque eles sabem que nos podem desobedecer, se quiserem, e continuarão a ter razão. Porque são animais. Porque não são pessoas.

É fácil falar.

O Leo adoeceu, esta semana, pela segunda vez. Levei-o de imediato ao veterinário quando me apercebi que o comportamento dele não estava normal. Depois de quatro horas no consultório, de muitas lágrimas minhas, tive que deixar o Leo internado, a soro, num cubículo rodeado de grades.

Não morreu. Fiquei feliz. Mas sofreu. De quem será a culpa?

Sofreu ele e sofri eu por ter assistido a toda aquela tentativa de salvamento. Sabia, no momento em que chorava de pena dele, que não se tratava de uma pessoa, mas de um animal. Mas nascerão eles para sofrer?

Nascerá algum de nós para ver sofrer os outros?

A dor que mais dói é a impotência para mudar o sofrimento dos outros. E nessa altura, sim. Eu soube que o Leo dependia de mim. De mim, da medicina e da insistência da médica que o curava.

Sim, Leo. Nunca irás entender o que sinto por saber que sofres. Mas saberá, alguém, aquilo que sentem realmente aqueles que os amam?

Há dias, em conversa com uma pessoa, fui ridicularizada por chorar e andar cabisbaixa por causa de um gato. O meu pai diz-me imensas vezes que tenho que saber separar as águas e estar preparada para me afastar dele. Mas só quem os tem percebe do que falo. E de uma coisa estou certa: quem não ama os animais é incapaz de amar quem quer que seja.

1 comentários:

Sandrinha disse...

Eu bem sei daquilo que falas!

Eu nunca tive um animal de estimação como tu tens o Léo (e que lindo que ele é!) mas sei o que é amar um animal como amamos uma pessoa. Sofrer quando o vemos mal e não podemos fazer nada.

E senti a revolta porque havia pessoas que não compreendiam por que razão eu sofria por um animal... Chegaram tambéma a "apelidar-me" de certas coisas.

O facto, é que acrdito que os animais merecem o melhor do mundo, ser mimados como se se tratassem de pessoas. Porque na verdade são seres como nós.

Como eu te compreendo, Kristy. Só boto fé que o Léo fique a cem por cento;) e que continues a poder dar-lhe os miminhos todos que quiseres.

Beijinho*

PS:Agora aderi àquela coisa de seguir blogues. Adivinha lá quem foi o primeiro que adicionei????