segunda-feira, novembro 21, 2011
Morrer na praia
O sal na boca corta-me os lábios finos e secos. O aroma a maresia é putrefacto e enoja-me. A areia, ao vento, toma rumos de nortada e corta-me a face como navalhas afiadas, como picos de rosas secas. No corpo não tenho roupas, nas mãos não tenho anéis. Numa poça de água vejo-me e não sou nada. Pequena. Desprovida. Despida. As ondas batem lá ao fundo, cinzentas e revoltas. Gaivotas emitem ruídos como gritos, passeiam junto à areia em busca de alimento. E eu arrasto-me. Sem forças. Sem pernas nem mãos. Sem ser ninguém, rebolo na areia molhada. Os grãos são muitos e penetram as entranhas, envolvem os cabelos molhados e suados. Cansados. E são tantos e tão pegajosos que não descolam. Não secam nem molham. Tapam-me as pálpebras, as narinas e a boca e impedem-me de respirar. Ao longe, as aves que até agora passeavam junto ao espraiar das ondasm fazem-se ouvir cada vez menos, cada vez menos, cada vez menos. As ondas morrem lá ao fundo, onde não há céu, não há mar nem praia. E o vento é cada vez menos forte. Os olhos já não abrem e o coração quase nem bate. Aos poucos deixo-me ir sem resistir. De nada vale.
terça-feira, outubro 11, 2011
Arrumar a vida
Arrumar a vida como quem organiza gavetas, de papéis velhos e rasgados a recordações antigas e esquecidas.
Arrumá-la em prateleiras vazias, repletas de sims e nãos, de bons e maus, como quem limpa espelhos partidos.
Arrumar os dias em pedaços, desfeitos em desencontros, roídos por um tempo que não passa.
Arrumar o passado por debaixo do tapete rasgado, que ninguém pisa e ninguém calca, que ninguém sacode e ninguém lava, que existe por existir e não para ser lembrado.
Arrumar o que fui e o que não sou em páginas em branco de um livro que nunca escrevi e, no fim, saber que nada do que sou é meu, nada do que é meu me pertence e nada, a não ser um nada profundo, é fruto do meu querer.
Arrumar a vida é como lavar lençóis brancos ao vento. Deixá-los secar em contratempo, sem esperas e sem procuras. É aguentar com a corrosão alva e mesmo assim saber viver com desencontros e desilusões.
Arrumá-la em prateleiras vazias, repletas de sims e nãos, de bons e maus, como quem limpa espelhos partidos.
Arrumar os dias em pedaços, desfeitos em desencontros, roídos por um tempo que não passa.
Arrumar o passado por debaixo do tapete rasgado, que ninguém pisa e ninguém calca, que ninguém sacode e ninguém lava, que existe por existir e não para ser lembrado.
Arrumar o que fui e o que não sou em páginas em branco de um livro que nunca escrevi e, no fim, saber que nada do que sou é meu, nada do que é meu me pertence e nada, a não ser um nada profundo, é fruto do meu querer.
Arrumar a vida é como lavar lençóis brancos ao vento. Deixá-los secar em contratempo, sem esperas e sem procuras. É aguentar com a corrosão alva e mesmo assim saber viver com desencontros e desilusões.
quinta-feira, agosto 04, 2011
Ilusão
doce como um gelado no verão, chegas e apoderas-te de uma existência que não é tua nem minha. que me deram. como quem dá rosas em dias de chuva.
depois ficas. e amadureces. como quem rega árvores de fruto e de frutas que não crescem, não são vermelhas e não têm açúcar.
vais estando, ocupando os dias e as noites. e quando já nem te quero, já és mais do que real. és minha. és vida.
impertinente e inconveniente. estás. vestes de manto branco cintilante as horas do dia que não quero viver e apagas com borracha branca e sem mancha os amargos e os intragáveis que não quero comer.
adoro-te e venero-te no fim. como se Deusa fosses, como se real te achasse. e quando te faço minha, te deito na minha cama e te dou a minha vida, és cruel e maliciosa. sais pela porta que fechei, com a chave que não te dei e pelo caminho que não te tracei.
vais embora. comigo só o rasto e a sensação. tomara que não fosses uma só e dura ilusão.
quarta-feira, julho 13, 2011
Nada
Nada cá dentro mexe, salta ou agonia.
Nada cá dentro grita, sente ou arrepia.
Nada cá dentro suspira, aflige ou faz rir.
Nada cá dentro encanta, alegra ou faz sorrir.
Nada que vem de dentro é suficiente forte para apagar memórias
Nada que vem de fora pode dar força para fazer escrever
Nada cá dentro é motivo para as minhas estórias,
Nada cá dentro é fogo, lume, ou faz sofrer.
De dentro vem a paz que sonhei,
De dentro vem o fim da dor que esperei,
De fora apenas o vento que bate na face,
Que sussurra ao de leve o desenlace,
E garante que o crer pode ser rei.
Nada cá dentro grita, sente ou arrepia.
Nada cá dentro suspira, aflige ou faz rir.
Nada cá dentro encanta, alegra ou faz sorrir.
Nada que vem de dentro é suficiente forte para apagar memórias
Nada que vem de fora pode dar força para fazer escrever
Nada cá dentro é motivo para as minhas estórias,
Nada cá dentro é fogo, lume, ou faz sofrer.
De dentro vem a paz que sonhei,
De dentro vem o fim da dor que esperei,
De fora apenas o vento que bate na face,
Que sussurra ao de leve o desenlace,
E garante que o crer pode ser rei.
segunda-feira, maio 09, 2011
Deus
Acreditei em ti quando tudo em mim era cepticismo,
Chorei por ti por me sentir perto do abismo.
Acreditei em ti mesmo quando pensei que não
E quando todos me diziam que existias eu não soube dar-lhes razão.
Falei contigo, mesmo sem saber se me ouvias,
Pedi-te com toda a força que me desses a maior das alegrias.
Depois fui fraca, despojei-te, desmenti-te, virei-te as costas
Berrei contigo e comigo, fui dura, desci encostas
E quando regressei, por força da natureza
Foste Homem, foste voz, foste certeza.
Obrigada.
Chorei por ti por me sentir perto do abismo.
Acreditei em ti mesmo quando pensei que não
E quando todos me diziam que existias eu não soube dar-lhes razão.
Falei contigo, mesmo sem saber se me ouvias,
Pedi-te com toda a força que me desses a maior das alegrias.
Depois fui fraca, despojei-te, desmenti-te, virei-te as costas
Berrei contigo e comigo, fui dura, desci encostas
E quando regressei, por força da natureza
Foste Homem, foste voz, foste certeza.
Obrigada.
sexta-feira, abril 29, 2011
Rezei
Rezei.
Com todas as forças e contra todos os cepticismos.
Rezei num acto de fé sublime, que eu nem conhecia ter.
Rezei numa força incontrolável, que alguém me deu e eu não soube esconder.
Rezei de olhos fechados e coração aberto,
Rezei de concentração emocionada e de olhar deserto
Rezei sem palavras e sem controlo
Rezei num acto de consolo
Rezei porque nada mais resta
Senão a fé que não presta.
Que não é nada
Senão a enorme esperança de encontrar uma nova morada.
Com todas as forças e contra todos os cepticismos.
Rezei num acto de fé sublime, que eu nem conhecia ter.
Rezei numa força incontrolável, que alguém me deu e eu não soube esconder.
Rezei de olhos fechados e coração aberto,
Rezei de concentração emocionada e de olhar deserto
Rezei sem palavras e sem controlo
Rezei num acto de consolo
Rezei porque nada mais resta
Senão a fé que não presta.
Que não é nada
Senão a enorme esperança de encontrar uma nova morada.
quarta-feira, abril 27, 2011
Fé
Acreditar.
Que tudo muda,
Que tudo volta,
Que tudo, um dia, volta ao pó e à cinza.
Acreditar, com a fé de quem crê cegamente
Que nada é nosso e a Deus pertence,
Que só ele conhece o amanhã,
E, num acto de desespero e gratidão irrefutável,
Nele entregar a vida, a sorte e o nada.
Acreditar,
Sem saber bem em quê,
Sem ter bem a força para,
Sem sequer saber o porquê.
Mas só acreditar,
Que na fé reside a esperança,
Que na ternura de uma lembrança,
Tudo pode um dia mudar,
Um dia e para sempre,
Sem nada nem porquês.
Que tudo muda,
Que tudo volta,
Que tudo, um dia, volta ao pó e à cinza.
Acreditar, com a fé de quem crê cegamente
Que nada é nosso e a Deus pertence,
Que só ele conhece o amanhã,
E, num acto de desespero e gratidão irrefutável,
Nele entregar a vida, a sorte e o nada.
Acreditar,
Sem saber bem em quê,
Sem ter bem a força para,
Sem sequer saber o porquê.
Mas só acreditar,
Que na fé reside a esperança,
Que na ternura de uma lembrança,
Tudo pode um dia mudar,
Um dia e para sempre,
Sem nada nem porquês.
segunda-feira, abril 25, 2011
Nunca se perde o que nunca se teve
Por muito que o quisesse
E o sonhasse
Sabia que nunca o teria.
Porque não era realmente meu.
Por muito que o desejasse
E até que por ele lutasse
Sei agora que nunca me pertenceu.
Por muito que tenha nascido da incerteza
Que tenha passado a fazer parte da minha natureza
Alguém, que não eu, o possa ter feito seu.
Agora partiu, livre e distante
Vai ficar arrumado bem longe do alcance
Atrofiado longínquo num canto da estante
Para que não o olhe, não o recorde, não o faça meu
Por no fundo, no âmago da verdade, sei que nunca me pertenceu.
São assim os sonhos,
mesmo aqueles que queremos muito.
Foto: aqui
E o sonhasse
Sabia que nunca o teria.
Porque não era realmente meu.
Por muito que o desejasse
E até que por ele lutasse
Sei agora que nunca me pertenceu.
Por muito que tenha nascido da incerteza
Que tenha passado a fazer parte da minha natureza
Alguém, que não eu, o possa ter feito seu.
Agora partiu, livre e distante
Vai ficar arrumado bem longe do alcance
Atrofiado longínquo num canto da estante
Para que não o olhe, não o recorde, não o faça meu
Por no fundo, no âmago da verdade, sei que nunca me pertenceu.
São assim os sonhos,
mesmo aqueles que queremos muito.
Foto: aqui
terça-feira, março 22, 2011
Não vale nada
É como acordar a meio da noite, levar a mão aos caracóis do cabelo suados pela dor e perceber que tudo não passou de um sonho mau.
É como imaginar que a vida é boa demais para ser sofrida e chorada e finalmente perceber que afinal eu é que sou fraca demais para a aguentar.
É como querer que a mentira não exista e ao mesmo tempo vê-la suplantar a verdade, é como imaginar que tudo um dia pode mudar vê-lo a não mudar, é como acreditar que quando pensamos que o buraco é fundo demais para lá cairmos, já estamos tão afundados que não nos conseguimos encontrar.
É como crer que a palavra não vale nada e que só a atitude pode magoar. É como pensar que a amizade é o bem mais precioso que podemos encontrar e, ao mesmo tempo, no meio de um sonho que só é mau porque nunca soubemos o que é bom, percebermos que nada no mundo é só nosso, nada no mundo é nosso fiel, nada no mundo é tão próximo de nós como apenas nós mesmos.
Ainda bem que existem sonhos maus para nos lembrarem que nem a dor de cortar o cabelo contra a nossa vontade é tão forte como a de não saber o que é o bem.
Mais vale sonhar. Acreditar e dormir. Porque a vida lá fora, aquela que nos criaram e obrigaram a viver, a mesma em que nos cortam o cabelo sem permitirmos, essa, não vale nada.
É como imaginar que a vida é boa demais para ser sofrida e chorada e finalmente perceber que afinal eu é que sou fraca demais para a aguentar.
É como querer que a mentira não exista e ao mesmo tempo vê-la suplantar a verdade, é como imaginar que tudo um dia pode mudar vê-lo a não mudar, é como acreditar que quando pensamos que o buraco é fundo demais para lá cairmos, já estamos tão afundados que não nos conseguimos encontrar.
É como crer que a palavra não vale nada e que só a atitude pode magoar. É como pensar que a amizade é o bem mais precioso que podemos encontrar e, ao mesmo tempo, no meio de um sonho que só é mau porque nunca soubemos o que é bom, percebermos que nada no mundo é só nosso, nada no mundo é nosso fiel, nada no mundo é tão próximo de nós como apenas nós mesmos.
Ainda bem que existem sonhos maus para nos lembrarem que nem a dor de cortar o cabelo contra a nossa vontade é tão forte como a de não saber o que é o bem.
Mais vale sonhar. Acreditar e dormir. Porque a vida lá fora, aquela que nos criaram e obrigaram a viver, a mesma em que nos cortam o cabelo sem permitirmos, essa, não vale nada.
segunda-feira, fevereiro 21, 2011
Paz
A tua vida, e a minha, por conveniência, tem sido uma luta constante.
Não daquelas de batalha, arma em punho e blindagem de ferro.
Não de gritos, de sangue nem de dores supremas.
Mas daquelas que moem por dentro, que se revestem de pistolas de dor, de lanças de sofrimento e que, como uma chaga, vão ardendo, drenando, escorrendo fios de revolta que não falam, não sentem, não gritam, mas matam.
E um dia ela vai-nos matar. Tu vais ver. Vai vencer-nos, vai afastar as nossas mãos. Só depois, sem que nada nem ninguém seja mais forte, só nesse depois é que vamos ter paz.
Não daquelas de batalha, arma em punho e blindagem de ferro.
Não de gritos, de sangue nem de dores supremas.
Mas daquelas que moem por dentro, que se revestem de pistolas de dor, de lanças de sofrimento e que, como uma chaga, vão ardendo, drenando, escorrendo fios de revolta que não falam, não sentem, não gritam, mas matam.
E um dia ela vai-nos matar. Tu vais ver. Vai vencer-nos, vai afastar as nossas mãos. Só depois, sem que nada nem ninguém seja mais forte, só nesse depois é que vamos ter paz.
sexta-feira, fevereiro 18, 2011
Depende de ti
Às vezes acho que é tão fácil ser feliz que embirro com o mundo e lhe viro as costas.
Zangada com ele, bato com a porta, atiro-lhe palavras más e grito em barafustos mudos dores minhas e dele.
Sento-me no chão, deixo as lágrimas caírem em lenço vazio, que é branco como um manto de neve e frio como os dias amargos de Outono. Faço tanta força nos olhos e nos lábios que as rugas que não tenho, mas que me marcam o coração, denunciam espasmos de velhice, rastos de um cansaço latente de quem ainda quase nada viveu.
Ainda no chão, sou só. Imagino-me despejada de desejos, branca de ilusões e atiro contra o vidro os sonhos que criei. Lá fora, o mundo virou-me as costas. Do lado de lá da porta que bati e não abri, sei que continua prostrado, magoado com as minhas palavras duras. Mas não volto atrás. Não me arrependo, não esqueço o rancor e não apago a amargura.
Lá fora, onde está o mundo e onde a minha vida se estende para lá do paraíso que não conheço, sei que também lá está a felicidade. Aquela fácil e que podia estar ao alcance de um beijo mudo, de um toque exímio, de um suspiro.
Mas que não depende de mim. Por isso, mundo, se algum dia te lembrares que aqui dentro há um coração que bate triste e chora desilusões, não te esqueças que ela ainda me espera. E é tão fácil trazê-la cá. A felicidade. Aquela fácil. Aquela que depende de ti.
Zangada com ele, bato com a porta, atiro-lhe palavras más e grito em barafustos mudos dores minhas e dele.
Sento-me no chão, deixo as lágrimas caírem em lenço vazio, que é branco como um manto de neve e frio como os dias amargos de Outono. Faço tanta força nos olhos e nos lábios que as rugas que não tenho, mas que me marcam o coração, denunciam espasmos de velhice, rastos de um cansaço latente de quem ainda quase nada viveu.
Ainda no chão, sou só. Imagino-me despejada de desejos, branca de ilusões e atiro contra o vidro os sonhos que criei. Lá fora, o mundo virou-me as costas. Do lado de lá da porta que bati e não abri, sei que continua prostrado, magoado com as minhas palavras duras. Mas não volto atrás. Não me arrependo, não esqueço o rancor e não apago a amargura.
Lá fora, onde está o mundo e onde a minha vida se estende para lá do paraíso que não conheço, sei que também lá está a felicidade. Aquela fácil e que podia estar ao alcance de um beijo mudo, de um toque exímio, de um suspiro.
Mas que não depende de mim. Por isso, mundo, se algum dia te lembrares que aqui dentro há um coração que bate triste e chora desilusões, não te esqueças que ela ainda me espera. E é tão fácil trazê-la cá. A felicidade. Aquela fácil. Aquela que depende de ti.
terça-feira, fevereiro 15, 2011
Quero chorar
Quero chorar. E tanto que o peito é pequeno para tanta emoção. Quero abri-lo, libertá-lo, fazê-lo voar e apenas chorar.
Quero chorar. Como se não houvesse amanhã. Chorar e não dizer porquê. Só chorar como se a vida fosse o choro tremendo da mais dura crueldade e finalmente chorar porque nada no mundo é tão grande que me possa impedir.
Chorar para mim, chorar por ti e por aquilo que a vida nos faz. Chorar porque nada mais importa quando as lágrimas retidas são tantas que formariam cursos infinitos de águas transparentes. E chorar sem soluçar, chorar sem temer que me ouçam, chorar sem sentir o sal das lágrimas e finalmente chorar por acreditar que só a chorar a dor vai embora.
Chorar sem alívio e sem pena. chorar sem olhar ao espelho, sem sentir conforto, sem pensar se irá fazer bem. Chorar porque sim, porque não há motivo, ou porque, se o há, é tão duro e cruel que nem o choro é capaz de apagar.
quinta-feira, janeiro 13, 2011
Gavetas cheias são rastos de passado
Abro a gaveta e procuro memórias passadas.
Há fotografias, blocos de notas, medalhas, porta-moedas. Há um número infinito de coisas que se atropelam, se escondem e se tapam umas às outras como folhas secas e verdes no final do Verão. Há sorrisos escondidos, laços perdidos, restos de músicas velhas. Há palavras rasgadas, agendas acumuladas, óculos de olhos que não vêem.
Na vida, como nas gavetas que tenho no quarto, também as memórias são muitas, também os bens mais do que imensos, também a vontade de os rasgar e desfazer mais do que forte. Também as velas ardidas queimam o coração, também as canetas perdidas escrevem uma canção, também as moedas esquecidas perdem valor.
Mas na hora de avaliar para que servem, na hora de pensar se as quero preservar, na hora de dançar ao som do vento e as atirar para longe... não as largo, não as perco, não as deixo voar.
Porque de inúteis têm tanto como de minhas. E de rastos do passado são mais do que valiosas.
segunda-feira, janeiro 03, 2011
2011, enquanto te abraço
Bate a meia noite e as palavras são as mesmas. Os sorrisos os mesmos. A euforia de sempre. Os olhares têm emoção e há beijos apaixonados, abraços emocionados, desejos mais ou menos sentidos.
Enquanto te abraço com a força que só o amor tem, nem sei se acredito no que não te digo. Nem sei se penso no que sinto. Nem sei se devo ou não formular um desejo.
Enquanto te abraço e o mundo à volta deixa de fazer sentido, nem sei se devo dizê-lo, nem sei se deixo que o silêncio fale por mim.
Enquanto te abraço e deixo de te olhar nos olhos por instantes, passo em flashback quase tão rápido como falo os momentos que passei contigo em dias idênticos, que passam e se repetem vezes sem conta, anos sem fim.
Enquanto te abraço e o mundo pára, a contagem decrescente fala por mim, antecipa o fim de um ano velho e mau, despede-se de dias únicos e prepara o nascer de um novo amanhã.
Enquanto te abraço quase que acredito que amanhã será melhor, quase que sou imensa de alegria e esperança, quase que sei que vale a pena esperar e desejar.
Mas depois, quando te afastas e os espumantes estalam, quando os gritos e o barulho invadem o ambiente e a minha alma, também o meu coração deixa de acreditar, também a mente se perdem em viagens, também a razão chega e me pede para não desejar nada. Não querer nada. Não acreditar em nada.