Gosto desta vida de ócio. De tudo fazer sem nada acontecer. Ou de simplesmente não fazer.
Férias são férias quanto mais não seja para regressar a casa, terminar com a rotina habitual que não muda, não altera porque senão deixaria de ser rotina.
Braga: 08h05: despertar na residência, encontro marcado na recepção às "menos um quarto", na Bracalândia, também às "menos um quarto" (estranho... depois de um ano a cumprir o mesmo ritual diariamente, nunca ninguém se apercebeu que, apesar da distância ser relativamente curta, é praticamente impossível estar na recepção e na Bracalândia à mesma hora, mas enfim... a Nia nunca se zangou. Eu diria que a Nia nunca se zanga...)
São assim as pessoas de bom coração, ou melhor, as pessoas que realmente têm coração. Porque quando se tem coração ele é sempre bom e só é mau se sofrer de alguma doença cardíaca ou coronária ou arritmia ou taquicardia... Mas há aqueles que mesmo na enfermidade são incapazes de deixar de ser aquilo que lhes está no sangue. "Bons", na verdadeira acepção do termo. Conheço poucas pessoas assim. Talvez só conheça duas ou uma. Mas uma sei que conheço realmente e que venha o que vier jamais ela mudará para mim.
Férias mais uma vez, férias mais um ano. Tudo passa com excepção daquilo que deixo de bom na minha segunda cidade.
Aprendi a gostar de Braga aos poucos, com o passar dos dias. Torna-se bonita quando o sol a presenteia com a sua luz da manhã, quando as rãs musicam o dia e as noites quentes que nos penetram pela janela da residência sempre alegre, sempre dinâmica nas vozes daqueles que chegam de madrugada, sabe-se lá de onde, atormentando o descanso de quem merece e precisa tê-lo.
A sua beleza passa ao lado daqueles que têm de viver com ela para não sucumbir ao tentar suportar a saudade da terra natal, da família, das raízes...
Braga deu-me tanta coisa boa e ensinou-me a suportar tanta coisa má.
Mas Braga quase que desaparece da minha mente agora que regressei a casa, ao meu lar de santidade. Acordar com a voz da mamã, sentir a festa subtil do meu gato, ter o dia todo para partilhar com a razão da minha vida, com a luz que ilumina os meus dias mais sombrios mesmo à distância de quase 60km de estrada longa...
As férias são sempre boas quando são férias. E são sempre merecidas quando passamos um ano a lutar por elas.
Braga é boa quando sou obrigada a adorá-la. As férias são óptimas porque me sinto enraizada no lar e no aconchego que sempre me dá. Porque nem sempre estar longe é fácil e bom. E porque nem todas as cidades nos oferecem uma Nia, no seu enorme coração, sempre aberto para receber todos os desenraizados que pelo infortúnio da vida, cairam de páraquedas numa cidade desconhecida.