sexta-feira, julho 28, 2006

Sede

Para quê forçar as palavras que não querem sair?
Para quê arrancá-las de dentro do ser se são incapazes de se conjugar semanticamente, de fazer qualquer sentido em conjunto com as outras?
Para quê?
Frustração, dor, agonia...
Saiam, mostrem-me o vosso mundo de fantasia, de letras soltas e vocábulos ocultos na escuridão dos dias que se tornam alvos à vossa chegada, sempre leve, sempre calma, sempre minha...
Sede de vós...
Sede de voz...
Sede de mim...

quinta-feira, julho 20, 2006

Pensamentos de Férias

Gosto desta vida de ócio. De tudo fazer sem nada acontecer. Ou de simplesmente não fazer.
Férias são férias quanto mais não seja para regressar a casa, terminar com a rotina habitual que não muda, não altera porque senão deixaria de ser rotina.
Braga: 08h05: despertar na residência, encontro marcado na recepção às "menos um quarto", na Bracalândia, também às "menos um quarto" (estranho... depois de um ano a cumprir o mesmo ritual diariamente, nunca ninguém se apercebeu que, apesar da distância ser relativamente curta, é praticamente impossível estar na recepção e na Bracalândia à mesma hora, mas enfim... a Nia nunca se zangou. Eu diria que a Nia nunca se zanga...)
São assim as pessoas de bom coração, ou melhor, as pessoas que realmente têm coração. Porque quando se tem coração ele é sempre bom e só é mau se sofrer de alguma doença cardíaca ou coronária ou arritmia ou taquicardia... Mas há aqueles que mesmo na enfermidade são incapazes de deixar de ser aquilo que lhes está no sangue. "Bons", na verdadeira acepção do termo. Conheço poucas pessoas assim. Talvez só conheça duas ou uma. Mas uma sei que conheço realmente e que venha o que vier jamais ela mudará para mim.
Férias mais uma vez, férias mais um ano. Tudo passa com excepção daquilo que deixo de bom na minha segunda cidade.
Aprendi a gostar de Braga aos poucos, com o passar dos dias. Torna-se bonita quando o sol a presenteia com a sua luz da manhã, quando as rãs musicam o dia e as noites quentes que nos penetram pela janela da residência sempre alegre, sempre dinâmica nas vozes daqueles que chegam de madrugada, sabe-se lá de onde, atormentando o descanso de quem merece e precisa tê-lo.
A sua beleza passa ao lado daqueles que têm de viver com ela para não sucumbir ao tentar suportar a saudade da terra natal, da família, das raízes...
Braga deu-me tanta coisa boa e ensinou-me a suportar tanta coisa má.
Mas Braga quase que desaparece da minha mente agora que regressei a casa, ao meu lar de santidade. Acordar com a voz da mamã, sentir a festa subtil do meu gato, ter o dia todo para partilhar com a razão da minha vida, com a luz que ilumina os meus dias mais sombrios mesmo à distância de quase 60km de estrada longa...
As férias são sempre boas quando são férias. E são sempre merecidas quando passamos um ano a lutar por elas.
Braga é boa quando sou obrigada a adorá-la. As férias são óptimas porque me sinto enraizada no lar e no aconchego que sempre me dá. Porque nem sempre estar longe é fácil e bom. E porque nem todas as cidades nos oferecem uma Nia, no seu enorme coração, sempre aberto para receber todos os desenraizados que pelo infortúnio da vida, cairam de páraquedas numa cidade desconhecida.

terça-feira, julho 18, 2006

Chegou o Fim


Hoje vesti-me de negro para Te agradecer.
A negritude da minha indumentária contrasta com a alvez do coração. Todos me olham porque difiro. Mas hoje sou imune a tais olhares. Hoje sinto-me pura na tranquilidade deste lugar seguro. Seguro, pelo menos, dos corações corrompidos.
Fui agradecer-Te. A história quis que o tivesse feito lá. Eu sei que não precisava de me ter deslocado para tão longe porque a Tua presença está inerente. Mas fi-lo. Arrependimento não sinto.
A Ti Te agradeço, pelo sorriso, pelo alívio mas igualmente pela dor e pela incerteza que tiveram um fim.
Se foi graças a Ti, não o sei. Mas a minha Fé diz-me que podes ter "mexido uns cordelinhos" aí em cima por mim. Por nós, que somos Teus.
Não há uma única palavra que sirva de agradecimento, nem de perdão.
Perdão pela falta de confiança, pelas promessas incumpridas quando irrealizadas. Mas todos sabemos que para crer é preciso ver. E a nossa fragilidade é incapaz de ultrapassar tal limitação. O ser humano é mesmo assim. Fraco...
Enfim, hoje chegou o fim... da dor.

quinta-feira, julho 13, 2006

Tudo se paga neste mundo


Chegaste dentro duma caixinha de sapatos que nunca sonhei abraçar. Pequeno, indefeso mas acima de tudo... lindo. De uma beleza que desafia a perfeição da Natureza. Exististe e começaste desde logo a fazer parte da minha vida, dos meus dias que agora são mais alegres porque os posso partilhar contigo.
Não falas. Mas olhas-me e o teu azul é tão profundo que se torna idílico. Dás-me paz. Dás-me sorrisos. Dás-me alegria. Dás-me companhia...
É incrível como um ser vivo tão diferente de nós é susceptível de captar a nossa atenção ao ponto de descobrirmos nele tantas semelhanças connosco.
Inveja talvez... Da sua paz, da sua diversão, da sua vida monótona de quem vive unicamente para viver... Do seu Carpe Diem.
Admiro a sua expressão serena, sempre inerte. Na verdade, nunca sorri. Nunca chora. Mas acaba por ser inacreditável a forma subtil como comunica connosco. A racionalidade que não possui transcende muitas vezes aquela que nós temos.
Experiência imperdível esta de conviver com um ser tão pequeno e tão diferente de nós...
É a primeira vez que convivo com um animal. E acreditem, estou a adorar.
Este é o Leo.
Leo de leão. Leo de pequeno príncipe que teve a sorte de encontrar um lar, uma família que o acolhesse.
"Tudo se paga neste mundo" - dizia a minha mãe que mudou hoje de ideias, ao compreender que este pequeno ser consegue dar-lhe a companhia que não tinha nos dias que são sempre longos na solidão de quem está sempre à espera daquilo que nunca vem.

sábado, julho 08, 2006

Só mais uma vez

Hoje posso voar, saltar, dançar...
Ser quem nunca fui. Ser eu pela única vez na vida em que mo permitem sê-lo.
Hoje soltaram-me as amarras da metáfora que me prendia à vida.
O relógio torna a andar, os segundos giram no frenesim dinâmico das horas que para mim já não passam. E se passarem sei que voltam a vir...
Nada mais me importa porque hoje eu sou livre.
Hoje eu sou eu...
Solto as minhas asas e preparo-me para voar.
Abro então a janela que me prende aqui e mentalizo-me para o impulso final.
Sei que quando cair nessa pureza infinita serei apenas eu e os meus medos, eu e apenas eu na certeza de que me tenho unicamente a mim.
Aperto firme o coração contra o peito, elevo um pé, depois o outro e...

- Cristiana, filha... São horas de acordar...
- Já vou mãe, deixa-me sonhar só mais um bocadinho, só mais uma vez...