sexta-feira, dezembro 18, 2009

18

Números.
Fracções matemáticas infindáveis e infinitas.
Cálculos, somas, significados exactos.
Matemática nunca foi a minha escolha, embora ao contrário de muita gente, também nunca tenha fugido dela.
Às vezes acho que a ciência me trai, porque vivo pelos sentimentos, poque fujo da exactidão e porque quero acreditar que nem sempre a vida é um dois mais dois.
Hoje, num dia carregado de dolorosas recordações, numa semana que se aproxima do clímax mais intenso que alguma vez podia ter sentido, também o dia 18 chega, repleto de importância.
São 9h da manhã. O sono foi embora, o despertar foi repentino, com o som do meu próprio coração a bater a compassos incertos. Com números redondos a ensombrar o meu destino. Com uma ansiedade incontrolável a cair sobre a perspectiva do meu dia.
Tudo pode acabar hoje. Tudo pode começar hoje. Tudo pode, simplesmente, ficar igual. E essa, sim, é a pior equação matemática.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Ouvi esta frase um destes dias, num dos meus trabalhos jornalísticos.

"Que 2009 termine rapidamente pois não vai deixar saudades a nenhum de nós, a não ser, por ventura, a felicidade de estarmos vivos".

Deculpa, 2009, por não saber apreciar as coisas boas que me trouxeste. As más são fortes demais. Mas ainda estás a tempo de mudar tudo. Basta um dia. Basta uma notícia.

Correr


Correr.

Correr em busca de sonhos.

Correr até o coração pular.

Correr até a garganta arder.

Correr até deixar de sentir os pés no chão.

E simplesmente correr.

Atrás da vida.

Atrás dos sonhos.

Atrás da meta.

Correr sem olhar para trás.

Correr até o vento furar os pulmões e os olhos chorarem de dor.

Correr até extravasar as próprias forças.

E ganhar.

Ganhar depois de correr.

Ganhar depois de cortar a meta.

Olhar para trás e ver sonhos vencidos.

Sonhos corridos.

Sonhos suados.

E, mesmo assim, não estar feliz.

E, mesmo assim, continuar a querer correr.

Mais e mais.

Até ao fim.

Até ao fim do mundo.

Por ti.
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terça-feira, novembro 24, 2009

Porquê?


Porquê que apesar da moralidade que até já faz frases contra isto, ainda continuamos, de vez em quando, a fazer aos outros aquilo que detestamos que nos façam?
Porque é que na maioria das vezes não conseguimos controlar as más acções?
Porque é que, depois disso, queremos tanto gritar "perdão" e as palavras não saem?


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sexta-feira, novembro 06, 2009

Chave dos sonhos


Há quem diga que comandam a vida.

Eu prefiro pensar que existem para serem vividos, para fazerem correr.

Que existem para serem sentidos, para terem que acontecer.

Concretizá-los, ou não, eis uma grande questão,

A resposta ninguém a sabe, nem o saber, nem a razão.

Prefiro mesmo elaborá-los de olhos fechados e de coração aberto,

Pintá-los de todas as cores, das do mar ou do deserto,

Fazê-los voar por aí e por além,

Só para saber que eu também,

Um dia, quem sabe, os possa fazer sorrir

E fechar com a mesma chave com que os soube abrir.


Foto: aqui

quinta-feira, novembro 05, 2009

Happy Endings


Descobri ontem, ao terminar a última palavra e a última página da "Dama Negra", de Nora Roberts, que não gosto de finais felizes.

Já desconfiava disso, desde o dia em que vi o "Who wants to be a bilionaire". A catarse de uma história de amor só faz sentido se for sentida, se fizer reflectir.

Não me venham com histórias. Não há finais felizes na vida. Para quê acreditar neles na ficção?
Foto: aqui

segunda-feira, outubro 19, 2009

Ciclos


Voltas e voltas sem parar põem-me zonza e fazem mexer o meu mundo.

Em rodopios, correntes de ar e cores imensas, os dias atropelam-se, os anos sucedem-se.

Acredito em ciclos de vida. Em altos e baixos que vão e vêm. Que trazem risos e choros, que acontecem e morrem.

Mas hão-de voltar. Mais uma vez e outra mais. Nos piores dos momentos e nas melhores das ocasiões. Porque o bom nunca é eterno e o mau nunca acaba.

Porque os ciclos formam círculos onde não há vértices nem linhas rectas. Porque os círculos se fazem em compassos descompassados de tempo, em rodas imensas de vida, em anos e anos de experiência.

2004 e 2009 são anos a apagar do mapa. Porque os ciclos giraram ao contrário, porque o meu pequeno mundo se inverteu... nas alegrias e se levou ao expoente... nas coisas menos boas. Vá.

quinta-feira, outubro 08, 2009

Farsa


Ouvem-se três pancadas no chão seco e de madeira velha. Não há luz e uma cortina azul, de pano grosso e velho, começa a correr em frente aos meus olhos. O cheiro a antigo e a mofo invade-me as narinas turvas, os olhos enevoados abrem-se e enfrentam o ângulo frontal. A sala está cheia. As caras são conhecidas e únicas. Não há palmas. Há silêncio.
O pânico é mais forte do que as tremuras das pernas que deixei de sentir, os sussurros começam a roubar-me a mente concentrada e, por fim, a primeira palavra sai.
Tento arrancar sorrisos, tento fazer rir. Não resulta. Tento fazer chorar, fazer sentir. Não funciona. Lanço frases longas, duras, abstractas. Palavras perdidas, atiradas, insensatas. Gemidos fortes, inaudíveis, em placas. Lanço-me, enfim, num chão perdido e sem fim, sem buracos e sem pó. Sem existência viva ou real.
"Afinal, o que querem de mim? Estou a representar".
"Pedimos-te uma farsa e tentas levar a vida em comédia, em drama ou por acaso. Estás despedida".
Querem que a minha vida seja uma farsa.
Apresento a minha carta de demissão à companhia teatral que julga orientar-me.
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segunda-feira, setembro 21, 2009

Livro da vida



Um ano se vai passando, ocupado e inteiro, repleto de experiências que se eternizam no livro vida. Um dia, sei que para elas olharei com mera recordação. Para já ainda o faço com dor, com melancolia, com vontade de as apagar da memória com um apagador de giz ou um corrector de tinta branca como aqueles que usávamos na escola primária, mesmo que a professora proibisse.
Depois, surgiram os outros, a inovação, aqueles que apenas deixavam uma faixa branca de tinta autocolante.
Hoje é duro apagar as palavras que vamos redigindo nas páginas do livro da vida. Porque não queremos, porque não podemos. Porque não nos deixam, enfim.
Será pedir demais que te dê a minha caneta de cor invisível e com ela escrevas uma nova página no livro da minha vida? Vá lá. Só uma. Não custa nada e até podes fazer letra grande. Bem grande. Para que eu não me esqueça de a ler. Para que eu nunca a possa esquecer. Será que não mereço?
Prometo que, se assim for, numa chantagem doce e amarga, tudo farei para apagar aquilo que de mau teve que acontecer.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Frase que mudou o meu dia

Há frases que podem mudar o nosso dia, o nosso futuro, a nossa postura, a nossa vida.

"Não temo o que virá. Venha o que vier, nunca será maior do que a minha alma" (Fernando Pessoa)

quinta-feira, agosto 27, 2009

Em ti. Há muito. (de mim)

Há muito que não escrevo. Há muito que não choro em palavras sentimentos tristes e alegres. Há muito que não sai de mim o muito que há cá dentro, o muito que me prende ao passado, à dor que não passou, à saudade que aperta. Já falo de ti, já nem sempre choro ao falar de ti. Agora, em vez da dor, a saudade ocupou o espaço vazio, os momentos mortos, a tua falta. A falta que me fazes.
Hoje falam-me em destino. Estaria escrito? Se alguém o escreveu numa folha de papel, na parede ou no céu, não sei. Prefiro não saber. Porque quem o fez devia querer-te mal a ti.
Se me queria mal a mim? Não sei. Não creio. Sinais do tempo, da lua e da luz dizem-me que não devo dizer mal do destino, que não hei-de amaldiçoar aquilo que ele me reservou. É verdade.
Mas deixem-me só e simplesmente não pensar nele. E só em ti.
Porque contigo levaste um pouco do muito de mim.

segunda-feira, julho 13, 2009

Até quando?

Durante muito tempo foste um amigo, uma companhia, uma alegria.
Hoje és uma recordação dorida, uma lembrança temida, um ácido de dor que espreme lágrimas arrancadas de dentro.
Até quando irei continuar a chorar por ti?
Já não deveriam ter passado "aqueles dias difíceis" de que me preveniram?

segunda-feira, junho 29, 2009

Lembras-te?

Lembras-te do quanto gostavas da segunda-feira e quanto eu a odiava?
Lembras-te das horas que passava agarrada ao computador e tu, todo deliciado, dormias no meu colo?
Lembras-te de como resmungavas quando te acordava para te fazer um mimo perdido?
Lembras-te de quanto eu era feliz enquanto vivias?

quinta-feira, junho 25, 2009

Agradecimento


Se existes? Não sei.

Mas que Te manifestas nas mais pequenas coisas, isso não posso negar.

E sei que Te zangas comigo por não falar contigo, por duvidar daquilo que És.

Hoje só Te quero agradecer.

Pelos amigos. Pela família maravilhosa que me deste.

Pela alegria que me ensinaste a aceitar, quando tudo à minha volta parece desabar num mar de tristeza negra. Porque me ensiaste a sorrir mesmo que a mancha da perda me acompanhe sempre.

Obrigada pelas surpresas. Por transformares um dia que alguns dizem que é só meu numa coisa bonita e inesquecível. Tão mais inesquecível quanto menos eu a esperei e a condenei à tristeza.


terça-feira, junho 23, 2009

Rescaldo

Dei-te amor
Dei-te carinho
Dei-te paz, quando quiseste estar sozinho.
Dei-te alegria
Dei-te compreensão
Acho que posso dizer que também te dei paixão
Porque estar apaixonado
Era viver em função de ti
Era nunca deixar de querer ter-te aqui
Era elevar-te acima daquilo que eu própria senti
Era ter coragem de me esquecer de mim,
Para saber que ao pôr fim ao teu sofrimento.
Era o meu que estava a começar ali

domingo, junho 21, 2009

E agora?

Porque para mim eras mais que tudo.
Mais do que qualquer um igual a ti poderia ser.
Porque tu não eras um qualquer.
Porque tu não eras.
À medida que foste entrando na minha vida,
Fui-te dando vida, fui-te vendo crescer.
Fui-te acomodando num cantinho quente do meu coração.
Fui-me habituando a ti. Muito. Demais.
Devias ter vivido mais. Devias ter aproveitado a vida como os outros.
Como aqueles iguais a ti.
Embora nenhum fosse igual a ti.
Agora sei que não te perco mais.
Sei que também não te perdes nas ruas, nos carros, no destino.
Agora já só tenho certezas.
Tenho a certeza de que não virão mais dúvidas.
Só dor e muitas lágrimas.
Lágrimas por ti. Por tudo o que foste e por tudo o que merecias ter sido.

E agora? Como é que vou viver sem ti?

sábado, junho 20, 2009

Boa recordação

Não quero escrever.
Não quero falar.
Não quero lembrar.
Deixem-me chorar muito.
Hoje, amanhã e depois...
Até a lágrima secar e apenas ficar...
A boa recordação tua.

domingo, maio 31, 2009

Desta vez


Desta vez não vai ser tudo como dantes.

Desta vez não vou permitir que o destino decida por ti e por mim.

Desta vez não vou entregar as chaves do futuro às mãos de quem insista em decidir.

Não vou lutar por ti, não vou contra a minha vontade, não vou chorar mais.

Vou acreditar que deve prevalecer o que é melhor para ti, hoje e agora, e não amanhã e no futuro.

Vou convencer-te de que não vale a pena sofrer para ser feliz durante só mais um mês.

Hoje vou ser eu a tomar as rédeas do meu destino e da tua vida.

Hoje vou chorar. Mas só hoje. Mas só desta vez.

quinta-feira, maio 28, 2009

Porta que se abre, janela que se fecha


Há quem diga que quando Deus nos fecha uma porta, abre-nos algures uma janela.

Na minha vida fui sempre encontrando portas abertas e sempre soube sair pela janela mais pequena quando as oportunidades se iam fechando.

À primeira vista, quando as forças se parecem desvanecer e a vontade de desistir é mais forte do que a de saltar fora, tudo parece impossível até que uma força suprema, que não sei de onde vem, me dá o impulso final.

Sempre assim foi.

Hoje sinto que me abriram portas de par em par, e o fizeram quando menos esperava, quando já não acreditava que os raios de sol pudessem voltar a raiar na pequena casa de sonhos que fui construindo ao longo da vida, ao longo do tempo.

Prefiro acreditar que a abertura das portas fez a corrente de ar bater com a janela e partir alguns dos vidros. Prefiro ter crenças de que não tarda nada tudo voltará ao que era dantes, e que as novidades que me entram pela porta possam coexistir com a alegria de uma pequena vida pela qual fui lutando ao longo dos últimos meses.

Prefiro acreditar que o meu Leo não me vai deixar ficar mal, não agora, não hoje, quando a felicidade ameaça entrar de rompante pela porta que se abre, e as angústias de meses ameaçam ir embora pela janela que se fecha.

domingo, maio 10, 2009

Brisa de vento


Sinto uma leve brisa de vento.

Deverei abrir a janela?

Ou será só o meu pensamento?

terça-feira, maio 05, 2009

Às vezes

Às vezes, um simples raio de sol é capaz de mudar o Inverno.
Uma simples gota de água é capaz de agitar o oceano.
Às vezes, um pequeno sorriso é capaaz de mandar embora a tristeza
E uma pequena palavra tem força para mudar uma vida inteira.
Às vezes, quando a nossa vida escurece e a luz parece branda e artificial,
Um simples sopro de vento é capaz de mudar as certezas, de tornar ténues as tristezas.
Às vezes. Sim, às vezes a dor é tão forte que um simples suspiro pode trazer o alívio.

sexta-feira, maio 01, 2009

Final feliz?

Hoje somos novamente as mesmas personagens do mesmo filme. Gravamos as mesmas cenas vezes sem conta e esperamos um final que queremos que seja feliz. Não como da primeira vez, não como da primeira etapa em que o gravámos. Podíamos ter desistido, podíamos ter abandonado o barco e podíamos não estar aqui hoje, agora, a viver novamente a nossa vida, a reescrever sobre linhas férteis o teu e o meu filme, o filme da nossa vida. Mas estamos. E prometo que irei lutar para que, desta vez, o final não se repita. Como nos DVDs especiais, em que podemos ver as duas faces da mesma moeda, as duas possibilidades de final. Eu não quero chorar mais. Quero escolher o final feliz. E tu?

Seremos capazes?

segunda-feira, abril 20, 2009

Prefiro mesmo. Juro.

Prefiro pensar que já morreste.

Prefiro ver-te renascer a acreditar que vais morrer. Mesmo. E de vez.

Não me deixes.

sábado, abril 18, 2009

Can it be possible?

Everything is starting all over again.

Will I have strenght enough?

Vou continuar a lutar por ti, meu pequeno, mas perdoa-me pelos choros em sufoco e as lágrimas que não consigo conter. Hei-de arranjar forças para recomeçar. Tudo. E de novo.

quinta-feira, abril 16, 2009

Ser Forte

À Sandra

Ser forte mesmo quando as ondas são altas e a praia está longe.
Ser forte mesmo quando a noite é escura e a manhã ainda dorme no hospício da imaginação.
Ser forte mesmo quando os monstros que criamos extraviam os anjos que nos guiam.
Ser forte mesmo quando o mundo nos parece virar as costas, a felicidade parece ter-se esquecido de nós, a alegria parece ter emigrado para o outro lado do planeta.
Ser forte é o que nos pedem quando as nossas asas deixam de voar, os nossos poros de respirar, os nossos olhos de abrir.
Ser forte é, enfim, a única alternativa que temos para que a fraqueza não nos leve de arrasto na batalha e a poeira não nos encha os olhos e a boca.
Cospe a poeira e abre as asas. Deste lado há quem torça por ti, quem chore como tu, quem queira que, por muito que a dor seja superior à vontade de a combater, sejas forte.

quarta-feira, abril 15, 2009

Roleta da Vida


Há, na vida, uma roleta mágica cujo girar que não depende de mim. Nem de ti.

Algo ou alguém que desconhemos e cujo poder jamais seremos capazes de domar lidera a conduta dos acontecimentos, o atropelar de coisas boas e más que se vão sucedendo a cada caminhar.

Como numa roleta da sorte, em que sou forçada a girar os números no sentido contrário à minha força e a favor da minha vontade, apostei toda a minha força em ti, na tua vida.

Dei, em tua função, mais do que pensei ser capaz. Dei noites sem dormir, batidas descompassadas de coração, dias inteiros de esperança, preces a favor da tua recuperação.

Como num casino em que a vida comanda a sorte, apostei toda a minha felicidade em ti. Dei mais do que poderia imaginar, mais do que as minhas forças poderiam aguentar. Dei o melhor de mim, aboli barreiras materiais para te salvar. Viveste mais um mês. Não me abandones agora. Vou continuar a lutar por ti, Leo.

terça-feira, março 31, 2009

Livro como destino


Terminei ontem de ler "A vida num sopro" de José Rodrigues dos Santos.

Detesto o sentimento que me invade de cada vez que leio a última página de um livro.

Sinto que, durante dias, ele foi como que um companheiro leal nas últimas horas do dia. A história passa a fazer parte da nossa vida, passamos a ansiar pelo momento de ler a próxima página como se fosse a nossa própria vida que estivesse no limiar do acontecimento.

Planeamos finais, especulamos o que irá acontecer mas, ao mesmo tempo, não deixamos de nos sentir perturbados quando o autor escreve precisamente o que prevíamos.

No fundo, a história passa a ser escrita pelo nosso pensamento e pela nossa imaginação. As páginas são devoradas como leões famintos e ao mesmo tempo tentamos combater contra a fome que nos atira os olhos para o fim da página quando ainda estamos a ler o primeiro parágrafo.

"A vida num sopro" foi um desses casos. Mais de 500 páginas de uma vida condensadas em menos de um mês de leitura, em períodos de ditadura e Guerra Civil Espanhola. Mais de 500 páginas que ontem terminaram num final que se começou a desenhar óbvio nos últimos momentos, mas que eu não queria que acontecesse.

Como se o meu poder para mudar o livro fosse mais forte do que as palavras grafadas. Como se o meu poder para mudar a minha vida fosse mais forte do que o destino que está escrito.

quarta-feira, março 11, 2009

Bem vindo a casa, Leo

O Leo voltou para casa.
Depois de todas as lutas, depois de todas as lágrimas, depois de todas as esperanças perdidas.
Venceu, pelo menos até hoje. O futuro só Deus o saberá.
E eu sei que há um Deus, para lá dos instintos felinos. Um deus que é pequeno e tem garras, que tem pêlo e fala em "miau".
Sim, é quando as nossas crenças se afundam, que ele se manifesta. Esse Deus que é gato ou cão, que é homem ou mulher. Que é.
Que me fez acreditar que vale a pena chorar. Que tudo dói menos quando os dias são repletos de lágrimas.
Gostava de ser como o Leo, forte e destemido. De ser capaz de, mesmo em convalescença de uma operação que lhe roubou alguns órgãos, querer saltar muros, avançar sofás, provar a todos os outros de que tenho força de viver.
Mesmo que a vida me tenha traído, sabendo que a amo tanto.

Um obrigado muito sincero e especial a todas as palavras amigas das amigas que nunca me deixam só.

segunda-feira, março 09, 2009

Nova cara

Nova cara, nova vida.
Porque nem sempre aquilo que mostramos é aquilo que dizemos sentir.
Uma nova máscara para um blogue que acompanha uma vida inteira de paixões e desalentos.
O meu espaço, o meu cantinho, a minha vida em palavras.

sexta-feira, março 06, 2009

Esperança


Pedem-me que tenha esperança.


É uma luz ao fundo do túnel, uma chama acesa que não se apaga nem com a rajada de vento mais forte.

É uma crença infinita, uma réstea de fé.

Uma vontade louca de não perder ligação, de não deixar cair a acreditação, de não permitir que morra algo em que se crê.

Existe e está bem viva em quem acredita. Cintila e ilumina as mentes desesperadas de quem sente falta de se prender a algo que combata a tristeza.

Ela é tudo menos a tristeza. Ela existe enquanto a tristeza ganha terreno. Ela luta contra o sorriso que se esvai, a lágrima que cai, a dor que não se vai.

Ela é forte. E é dura, mesmo que seja apenas a luz que ilumina no fundo do túnel.

É tudo isto, desde que exista.

Porque quando não existe é apenas "cinza, pó e nada", é apenas a vontade de acreditar que ninguém tem, a vontade de ter fé, de não deixar morrer aquilo que se sabe que jamais viverá.


Pedem-me que tenha esperança.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Sorte

Há quem diga que se faz. Eu prefiro acreditar que alguém a faz por mim e que está desenhada há muito tempo num caminho interno que não consigo ver. Entregar-se à sua sorte é resignar-se perante aquilo que a vida reserva. Nunca fui de baixar os braços, a não ser por um só dia, quando as forças me falham e me escondo nos lençóis quentes da minha cama por umas horas. Depois, como se alguma força suprema também se escondesse, rejuvenesço e saio fortalecida, com novas garras para enfrentar a sorte que me espera.
Desde o início de 2009 que me sinto entregue à minha sorte. Penso que deveria ter lutado contra ela, agora acredito que já é tarde. Desde uma multa no carro ultrapassada por uma situação no mínimo embaraçosa, passando por arranhões no mesmo carro e terminando com um pequeno acidente, sem culpa, mas para o qual não me chegou o susto, vejo-me hoje desamparada e sem forças para encarar o que me está a acontecer.
De novo o Leo. As esperanças de que ele melhorasse foram-se avolumando nos últimos dias, fui ganhando coragem para acreditar que seria ontem "o" dia. E era. Se novamente a sorte não o traísse. A ele e a mim. Voltou a piorar.
Com tudo isto, a minha vida parou de girar em torno de mim, da minha ambição por encontrar uma ocupação mais definitiva do que o Audiência. Parece que, de repente, tudo deixou de fazer um sentido claro. Acordo a pensar que hoje será um dia novo e que o Leo vai voltar para casa e quase nem reflicto sobre aquilo que me trouxe cá. Estou feliz com a minha condição? Será que já não procuro um trabalho estável, uma vida futura, um aconchego emocional?
Não. Hoje só quero que ele não sofra, só não me quero sentir culpada. Só quero estar entregue à sorte que me traiu, ao azar no qual não creio e a mim própria, em que já não sei se acredito.
Não sou a Cris que me conheço, a Cris que todos conhecem. Deixem-me amargar a minha falta de sorte, deixem-me acreditar que tudo vai passar. E por favor, aqueçam-me os lençóis que são só meus. Hoje não quero ser eu. Quero ganhar a minha sorte.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Só quem os tem percebe do que falo

A minha casa é grande como o sol. No pátio, há jardins e árvores com flores que nascem na Primavera. Os raios são quentes no Inverno frio e as sombras são refrescantes quando o calor do Verão aperta.

É o meu habitat natural. Sempre aqui vivi. Vi, de perto, as transformações que sofreu. De casa agrícola, velha e desconfortável, foi-se tornando, ao longo dos anos, num lugar onde dá gosto viver. Diria que é digna de ser vista, digna de ser admirada. Como já disse, é grande. Tão grande que só poderia dar felicidade a quem nela vive.

Desde pequena que ouço outros dizerem que a casa é tão grande e tão espaçosa que podia dar felicidade a um animal de estimação. Um cão. Nunca me interessou. Eu até corro de medo quando vejo um. Por vezes, na ternura da infância, costumava imitar um cão solitário e choroso, fazendo pequenos rugidos e sons de lamúria deitada no chão.

"Oh pai! Gostava de ter um cãozinho". A resposta sempre foi negativa, mas para ser sincera também nunca me incomodou muito. No fundo, não sabia se realmente gostava daquilo que pedia. Acho que, na verdade, não o queria.

Foi numa das fases de crescimento da minha casa, quando os quartos passaram de velhos e muitos para poucos e luxuosos que me mudei para Braga. Foi lá que comecei a contactar com animais, nomeadamente com o gato de uma grande amiga que Braga me deu.

Era isso. Acho que queria um gato. E o gato apareceu na minha vida. Estávamos em Junho de 2006 e era véspera dos meus anos.

O Leo apareceu para nunca mais me deixar.


Medo

Acredito que os animais têm o seu mundo, que é compatível com o nosso, mas que não é completamente conciliável com o nosso. A irracionalidade deles sobrepõe-se à nossa racionalidade na altura de se separarem as coisas. Porque nós queremos que eles nos percebam e nos obedeçam. Porque eles sabem que nos podem desobedecer, se quiserem, e continuarão a ter razão. Porque são animais. Porque não são pessoas.

É fácil falar.

O Leo adoeceu, esta semana, pela segunda vez. Levei-o de imediato ao veterinário quando me apercebi que o comportamento dele não estava normal. Depois de quatro horas no consultório, de muitas lágrimas minhas, tive que deixar o Leo internado, a soro, num cubículo rodeado de grades.

Não morreu. Fiquei feliz. Mas sofreu. De quem será a culpa?

Sofreu ele e sofri eu por ter assistido a toda aquela tentativa de salvamento. Sabia, no momento em que chorava de pena dele, que não se tratava de uma pessoa, mas de um animal. Mas nascerão eles para sofrer?

Nascerá algum de nós para ver sofrer os outros?

A dor que mais dói é a impotência para mudar o sofrimento dos outros. E nessa altura, sim. Eu soube que o Leo dependia de mim. De mim, da medicina e da insistência da médica que o curava.

Sim, Leo. Nunca irás entender o que sinto por saber que sofres. Mas saberá, alguém, aquilo que sentem realmente aqueles que os amam?

Há dias, em conversa com uma pessoa, fui ridicularizada por chorar e andar cabisbaixa por causa de um gato. O meu pai diz-me imensas vezes que tenho que saber separar as águas e estar preparada para me afastar dele. Mas só quem os tem percebe do que falo. E de uma coisa estou certa: quem não ama os animais é incapaz de amar quem quer que seja.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Viver

Percorrer caminhos ambíguos, ora tristes, ora alegres, ora desconhecidos, ora os mesmos de sempre.
Viver na incerteza de um amanhã incerto, de pedras de calçada ténues e molhadas pela chuva do amanhecer.
Viver para esquecer o passado, para crer no devir, para mudar o que não se é e pensar no que se quer ser.
Viver para ver o que está para acontecer. Para sorrir, para chorar, para animar.
Viver, enfim, para ver a vida não morrer. Para ver a vida mudar. Para viver uma vida que é minha e tua.
Viver por ti, por mim. Por aquilo que não somos e gostaríamos de ser. Por aquilo que ambos sabemos que jamais seremos. Por aquilo que temos a certeza que sempre iremos ser.
Viver para ver crescer outros, para ver entristecer os que amamos, para chorar com eles, para dormir com eles, para amá-los.
Viver, enfim, para não morrer.
Porque a vida é uma eterna fauna de dores, alegrias e angústias saudáveis. Porque a vida é uma morte constante.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Legos. Lembro-me deles?


Lembram-se dos Legos?

Eram peças amarelas, vermelhas, azuis, brancas e pretas. Sozinhas não valiam nada, mas juntas eram capazes de transformam uma autêntica confusão de pedaços de plástico em construções inimagináveis e admiráveis. Eram infinitas, coloridas e tão engraçadas...

Eu tinha um balde inteiro cheio delas. Entretinha-me horas sem fim a dar-lhes um sentido. Nunca os pedaços soltos me deram rigor. Sempre gostei de dar um sentido a tudo na vida.

Tinha 3, 4, 5 anos. Tinha capacidade de construir coisas, de edificar sonhos, de impedir que se destruíssem.

Passaram quase 20 anos. A caixa de legos espera-me, num canto bem guardado da minha casa e hoje penso se ainda terei capacidade para a reconstruir. Farão, hoje, aquelas peças algum sentido para mim? Serei ainda capaz de evitar que as destruam?

Os meus sonhos, hoje, morrem à nascença. Matam-nos sem que tenha tempo de criar um escudo de legos que os protejam. Calcam-nos sem que tenha tempo de chorar ou barafustar por derrubarem o meu trabalho de horas, de anos. Os meus sonhos, hoje, são como os legos que se espalham pelo chão da sala de estar e se escondem por debaixo dos sofás, que a minha mãe só encontra quando vai aspirar. Só a minha mãe encontra os meus sonhos perdidos, debaixo do sofá, carregaos de pó.

Os meus sonhos, hoje, podem ser aspirados por outros e não apenas por mim. Os meus sonhos são como os legos que hoje se constroem. Trazem livro de instrução em linguagem uniforme. Têm regras para serem cumpridos, podem ser lidos por todos. Podem ser meus e dos outros. Não podem ser só meus.

Hoje, os legos não são universais. São grandes e pequenos mas não encaixam naqueles que aguardam há anos na velha caixa vermelha em cima do roupeiro na despensa de minha casa. Não encaixam. Não fazem sentido.

São velhos sonhos adormecidos no canto da minha memória.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Boneco de Neve: caem flocos na minha casa


Olho a janela e caem flocos leves e brancos como pedaços de algodão. No chão, são gotas frias de água, como chuva.

Pela primeira vez neva na minha terra e em quase todas as cidades do Norte do país.

Neva também na minha mente, regelando pedaços da minha imaginação esquecidos pelo tempo. Neva a incerteza, a dúvida, o medo do futuro. A ameaça da inércia, o temor das respostas negativas.

Por um lado, o descanso merecido. Por outro, as vozes que assombram e remontam àquilo que sou, àquilo que não sou e àquilo que não sei se algum dia virei a ser.

Sou feliz por receber, finalmente, um minuto de descanso. Triste porque o gelo que penetra a imaginação ameaça apoderar-se também do mais íntimo de mim. Daquilo que só guardo para dar aos outros. Tenho medo que a neve congele a minha essência, que se esqueça de regelar o medo.

Tenho medo, sim. Que me corrompa os pensamentos e a vontade de viver. A força de lutar e a coragem para enfrentar aquilo que não sei se algum dia virei a ser.