terça-feira, novembro 18, 2008

Na Segunda Pessoa

Quantas vezes é que nos vemos em segunda pessoa?

Tens frio na noite e medo do escuro
Não saltas aflito de cima do muro
Tens medo e coragem, não sabes ao certo
No meio do nada há um lugar incerto
Avanças, recuas, dás mais um palpite
A incerteza abre-te o apetite
Não fiques parado no meio da estrada
Apanha boleia para qualquer morada
Abre uma janela deixa a luz entrar
Talvez haja alguém que te possa encontrar
Acordas devagar para não te assustares
As coisas nem sempre estão nos seus lugares
Tens uma desculpa uma frase batida
Improvisas um sonho à tua medida
Reages contido ao teu coração
Pois cabe-te tudo na palma da mão
Não fiques parado no meio da estrada
Apanha boleia para qualquer morada
Abre uma janela deixa a luz entrar
Talvez haja alguém que te possa encontrar

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quarta-feira, novembro 05, 2008

Sonhos

Ontem fui ver, pela segunda vez, o espectáculo do La Féria "Um Violino no Telhado". De cada vez que experimento entrar naquela sala e ver toda aquela magia, cada vez tenho mais certeza de que a minha vida não vive sem música.
Frequentei a Academia de Música de Vilar do Paraíso (AMVP) durante 11 anos. Confesso que não me dava muito bem com aquele ambiente. Até admito que cheguei a pensar desistir porque não mantinha muitas relações sociais lá dentro. De certo modo nunca cheguei a perceber bem o porquê. Nunca tive qualquer dificuldade de relacionamento, sempre me entendi bem com todo o tipo de pessoas. Mas lá, vivia uma espécie de solidão que me perturbava e que me roubava, muitas vezes, a vontade de lá entrar.
Mas, no fundo, sabia que algo mais forte do que eu me fazia lá andar.
De cada vez que vejo os espectáculos do La Feria e neles reconheço uma e outra cara que frequentaram a AMVP aquando a mim sinto tristeza por nunca ter encaminhado a minha vida nesse sentido.
Um dia hei-de vingar-me na música por todas as tristezas que o jornalismo me vai dando. Prometi a mim mesma que hei-de concluir o curso, fazer as três disciplinas que me faltam e entrar numa classe de canto.
Nunca é tarde para seguirmos os nossos sonhos.
E sabem quando sabemos que são esses os nossos sonhos? Quando a emoção é tanta que quase nos sufoca ao pensarmos neles.

terça-feira, outubro 14, 2008

O "Mono"


Tenho andado por aqui. Porque não há tempo para pensar em sentimentos, em desilusões, em monotonias e rotinas. Preferia que esse tempo nunca surgisse, que estes dias fossem sempre repletos de energia e ocupação. Mas não são.

Ontem senti-me um elemento da decoração. Um "mono", como chama a minha mãe àquelas coisas velhas que andam lá por casa e que já não têm utilidade nenhuma senão... ocupar espaço.

Acho que é isso que sou, às vezes, no Público.

Sabem porque é que dói?

Porque é só aqui que me sinto assim. Não estou habituada, é verdade. Em tudo, na vida, sinto ter alguma utilidade. Não estava preparada para passar ao lado das coisas úteis.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Público...

Os dias no Público são assim...

Alegres e tristes
Stressantes e monótonos.
Estranhos e ao mesmo tempo familiares.
Assustadores e ao mesmo tempo aliciantes.

É apenas a quinta vez que entro nesta redacção, me sento nesta cadeira e olho toda esta gente. É incrível como, de repente, passamos do oito ao oitenta ou do cem ao zero. Um dia pode vestir-se de amarelo, verde ou azul. Dão-me uma fotolegenda de reciclagem e dizem que gostaram do meu texto. Dizem-me que tenho que apanhar um táxi e encho-me de coragem para o fazer. Saio às 21h da redacção exausta, de rastos mas cheia de alegria. Senti-me útil e eficaz mesmo que a cerca de 1h de conversa com duas pessoas importantes apenas tenha cabido em 600 caracteres de texto.
Utilidade.
Palavra que passou a fazer parte do meu léxico pessoal nos últimos dias. Sentir-me útil, nem que seja para mil caracteres num jornal de 35 páginas é ultimamente a maior felicidade que me podem dar.
Nem que, para isso, tenha que lutar contra o stress, desesperar de tédio, procurar fazer o melhor e acabar por sair o pior... mas fazer!
Seja o que for... fazer!

quinta-feira, agosto 21, 2008

Aquilo que vai dentro.. do Cemitério de Pianos


Ao meu irmão


As férias foram assim...

Submersas entre palavras soltas, ventos de leste e o Mar Mediterrâneo.

O cascalho da areia confunde-se com as peles brancas que anseiam bronzear.

Precisava de descansar, de repousar e de pensar.

Nada do que previ acabou por acontecer porque estava, de facto, cansada...

Não quis pensar, não quis reflectir nem ansear.

O que será, será. O que estiver para vir, que venha...

Hei-de encontrar forças para o enfrentar, hei-de saber acordar deste estado de imersão onde me encontro...


Pela primeira vez, em muitos anos, só li um livro durante as férias.

Um livro que me ocupou mais de dez dias de reflexão. Que entrou na minha vida quase por acaso, que foi dando um novo sentido aos passeios de terceira idade a que fui forçada a ir durante o mês de Julho.

Nesses dias fui conhecendo a história fictícia de Francisco Lázaro. Poucos se lembrarão dele.

Há coisas que surgem na vida por acaso mas, ao longo do percurso, começam a fazer sentido de uma forma tremendamente alucinante.

À medida que conhecia a história de um jovem maratonista e entrava em todos os pensamentos que o José Luís Peixoto lhe imaginou durante a prova dos Jogos Olímpicos de Estocolmo em 1920, fui imaginando o meu irmão a lutar pelo sonho que agora concretizou.

No dia em que os Jogos Olímpicos de Pequim estreavam, também a notícia que todos esperavamos mas ninguém queria receber, acabaria por surgir.

Terminar as férias mais cedo não foi nada comparado com o final trágico do Cemitério de Pianos.


Que orgulho que eu tenho em ti. Oxalá algum dia alguém possa sentir por mim aquilo que vai cá dentro...


segunda-feira, agosto 18, 2008

100

É a centésima vez que aqui escrevo.
Poderia ser um número considerável se não tivesse dado este blog à luz há mais de três anos.
Poderia escrever todos os dias. Todas as horas. Não seria impossível. Há quem o faça.
Mas como uma mãe que vê o filho pela primeira vez e lhe traça o destino à primeira vista, também eu decidi que este espaço seria de entrega aos momentos marcantes. Àqueles que merecem ser descritos, àqueles que me fazem bem descrever.
Poderia tentar enganar-vos e dizer que se não escrevo mais é por falta de tempo. Por vezes é mais do que isso. Falta de vontade. Falta de força de relembrar os momentos. Falta de coragem para os contar. Falta de garras para encarar que, ou escrevo para ninguém, ou quem me lê não dá feedback.
A todos os que estão desse lado, obrigada por me lerem há 100 publicações.

sexta-feira, julho 25, 2008

Deixar fluir os pensamentos

Ouvia ontem esta música enquanto os meus olhos se fecharam para um momento de aberrações pacíficas
..


Deixar fluir os pensamentos...



Por detrás da consciência, por entre os olhos cansados, por entre as pálpebras cerradas e por entre a música calma...
Momento de paz, de asas de imaginação, de abstracção quase total, de quase tudo o que é quase mundano...
Pensar... deixar-se levar... entregar-se de corpo e alma a animais sem pernas, a homens em bicicletas gigantes...
Imagens que se atropelam por entre sonhos ilógicos, momentos desconexos, objectos irreais...
Cadências rítmicas e perfeitas, inconscientes mas constantes, desprendidas mas agarradas, superfíciais mas profundas...
Sonhar... meia acordada e meia adormecida, meia confusa e meia consciente...
Mas sonhar. Sonhar sem pensar que se sonha. Entregar-se sem dó nem vontade de permanecer preso.
Abstrair-se...
Deixar vir tudo o que não se quer, ver tudo o que não faz sentido.
Mas compreender que às vezes, o ilógico que reside cá dentro, o idiota que está perdido no àmago do inconsciente...
Também tem direito a existir.
Deixar fluir um pensamento irreal... Quantas vezes não o impedimos?

sexta-feira, julho 11, 2008

Ilusão?

Vou para o Público.
A resposta chegou tarde e atrasada.
Atrasada porque, como em quase tudo na vida, sou a última a saber.
Novidade.
Sou quase sempre a última a saber de tudo, não fosse a minha perspicácia suprema, a minha desconfiança de tudo.
Algo me dizia que já deveria ter sabido. Qual o meu espanto quando me dizem que a confirmação já me deveria ter sido dada há mais de duas semanas.
Espanto.
Bem, pelo menos, e quase que pela primeira vez na vida, a resposta não foi desilusória.
Consegui!
Já lutei tantas vezes por tanta coisa e perdi que, se perdesse desta, acho que já nem me doía.
Mas parece que lá ganhei...
Pelo menos acho que o meu pai ficou feliz.
Sim porque acho que ele nunca sonhou propriamente que eu fosse jornalista. "Mas já que és, pelo menos escreve para o Inimigo Público", disse-me com aquele sorriso que eu já conheço.
Já o conheço. Não sei se é bom ou mau. Mas conheço.
Confesso que a minha primeira opção de estágio foi a pensar nele. Porque sei que não sou aquilo que ele sonhou. Mas sinceramente também nunca soube o que é que ele sonhou para mim...
Advogada desempregada?
Bancária frustrada?
Estou certa que não.

Enfim. Vou para o Público.
Feliz? Acho que a minha maior felicidade foi poder dizer "entrei na primeira opção" pela primeira vez na vida.
Expectativas? Poucas. Como sempre. Sempre preferi surpreender-me. É o que sempre digo... corra como correr.. só não quero cair na lama...
Mas... pelo menos... vou esforçar-me por não desiludir o meu pai. Porque a mim, já não me iludo.

domingo, junho 08, 2008

O primeiro dia da eternidade

Gosto quando os dias são calmos e me reservam afazeres.
Acordar com a sensação de que o mundo precisa de mim, de que vivo para servir e não para ver passar o comboio.
São poucas as vezes em que abro os olhos e sinto que não há nada para mudar na vida. Que tudo está bem e que ninguém me espera, nada me aguarda.
Habituei-me, de há um ano para cá, a sentir que alguém precisa de mim. Que o mundo gira ao contrário dos ponteiros do relógio e que me compete correr nesse sentido.
No sentido da vida, da alegria e da felicidade, mesmo que nem sempre as encontre.
Aprendi a gostar do stress, dos dias repletos de compromissos, das horas que se atropelam e das ideias que não surgem. Da falta de imaginação, da dificuldade de concentração. Das quedas e das recomposturas. Das palavras duras e dos elogios.
Foram tantas e tão dolorosas. E esses, tão poucos mas tão saborosos.
Aos bocados aprendi a ver a vida a mudar. A deixar de pensar como se tivesse eternamente 18 anos. A imaginar o mundo do trabalho como um horizonte distante e inalcançável, a pensar que também eu cresço.
De há um ano para cá tudo parece fazer mais sentido. Os pequenos pormenores da vida tornam-se insignificantes face às grandes responsabilidades, aos grandes compromissos. Aos medos.
Medo é o que ainda sinto acima de tudo.
Medo de acordar e não saber o que fazer. Pior. Não saber o que me espera.
Esse é um medo com o qual aprenderei a lidar. Ao longo do tempo. Ao longo da vida. Até à eternidade.

domingo, maio 18, 2008

Elogios

Não me elevam nem fazem de mim aquilo que não sou.
Se forem verdadeiros, fazem-me mais feliz mas não sem antes os submeter a uma avaliação profunda.
Vozes anónimas, perspectivas inviusadas não me fazem crescer nem voar acima das nuvens.
Sou assim.
Não me iludo com palavras bonitas ou caras simpáticas.
Desconfio.
Gosto de acreditar que o que dizem é verdade, mas prefiro pensar que tudo pode ter um reverso.
Até à confirmação profunda, gosto de aguardar calmamente a sentença final.

Não.
Não sou fria nem convencida de tudo. Tenho, inclusive, diversas dúvidas das minhas capacidades.
Mas costumo dizer que, embora o sonho ocupe grande parte da minha vida, vivo com os pés bem assentes na terra.
Prefiro surpreender-me e elevar-me ao alto, a desiludir-me e cair redonda no chão.
Porque nesses momentos... Não há elogios, nem mãos que nos levantem.

sábado, abril 26, 2008

Facada


Há quem lhe chame efeito bola de neve.
Eu prefiro encará-lo como uma aprendizagem. Uma pancada dolorosa, uma faca que espeta mas não faz sangrar. Aliás, várias.
Vários golpes que vão ficando e não sarando como uma chaga aberta que não sangra, não endurece, não cura.
Com o tempo dizemos que a esquecemos, que já passou, que não existe. Mas o tempo ensina-nos a fechá-la por fora sem que a curemos nas raízes. Ficará para sempre aberta por dentro, eternamente a escorrer o sangue do desgosto ainda que não nos arda como antigamente.

Um dia irei olhá-las e dizer que me ajudaram a crescer.
Por agora resta-me tratá-las para que não infeccionem. E acreditar que amanhã estarão curadas. Elas e eu.

(foto)

sexta-feira, abril 18, 2008

Beem! Que surpresa...




You Act Like You Are 15 Years Old



You are a teenager at heart. You don't quite feel like a grown up yet, but you don't feel like a kid.

You question authority and are still trying to find your place in this world.



You're quite rebellious, and you don't like being told what to do. You like to do things your way.

You have your own unique style, taste in music, and outlook on life.

terça-feira, abril 08, 2008

O Bolo da Vida


A minha mãe ensinou-me que quando fazemos um bolo e queremos que ele cresça e fique "fofo", há uma técnica especial que não deixa enganar.

É saber separar a gema da clara, colocando-as em recipientes diferentes.


Mas a vida ensinou-me que, se eu quiser crescer em paz, sem que todos os dias tenha que passar por situações de sofrimento com aqueles que penso que me querem bem, devo fazer este exercício de separação da gema da clara.

Num recipiente pequeno coloco as gemas, com muito cuidado para que não entre nem um pouco da parte transparente do ovo. Porque, às vezes, um pequeno pingo de maldade é suficiente para estragar aquilo que há de bom.

Acima de tudo há que analisar bem aquela bolinha amarela. Eu tenho muito receio com o ovo, inclusive aboli esse alimento das minhas refeições. Mas quando se trata de fazer a escolha da vida, há coisas das quais não podemos abdicar e há riscos que temos que correr.

Então, a pequena tigela vai recebendo algumas gemas de ovo. Umas maiores, outras mais pequenas mas, ao seu jeito, todas elas me farão saudável e irão contribuir para que o bolo se torne bem compacto.


Olho para a pequena tigela e vejo-a tão vazia. Mas será que aquilo que realmente importa é assim tão pouco?


Do outro lado, no grande recipiente onde coloquei as claras, quase não sobra espaço para mais nenhuma. Sei que o meu bolo ficará bem grande e fofo. Sei que irá crescer mais do que a forma onde o vou colocar. O calor fá-lo-á enorme, aparentemente bom e suculento. Mas... e o sabor?


Terão sido aquelas poucas gemas suficientes para lhe dar sabor? Será este alimento suficiente para me alimentar ao longo da vida?

Para isso é que existem as claras. Bati-as em castelo para que crescessem ainda mais. Juntei-as ao preparado anterior e o resultado foi excelente.


À primeira vista o aspecto é fantástico, delicioso, irresistível. Provo as fatias uma a uma, ao longo dos dias e da vida. Sei que as claras fizeram da minha vida aquilo que ela é. Mas, no fundo, não esqueço que o importante sabor e cor foram dados pelas gemas do ovo que, com tanto cuidado, separei.


É para isso que servem as pessoas e as coisas acessórias da vida. Tal como as claras do ovo, batemo-las em castelo, embelezamo-las e criamos a ilusão de que são elas que dão alegria ao nosso dia-a-dia.

Tudo não passa de uma ilusão. Porque o amarelo que dá realmente cor à nossa existência é tão pequeno que quase nem nos lembramos dele. Mas é tão importante que, quando aprendermos a separar a gema da clara, iremos atingir o estado de perfeição e ninguém será capaz de nos superar na excelente tarefa de fazer o bolo da vida.

domingo, março 30, 2008

Quadro de Lousa


Se a vida fosse um quadro de lousa preto, onde se pudesse escrever e apagar a cada instante, então eu viveria no mundo imaginário em que as pessoas importantes nunca o eram por muito tempo.


Somos meras conhecidas, dizemos um "olá" frio e distante. E quase nem nos lembramos dos bons momentos porque os maus acabaram por os suplantar. As boas recordações caem no esquecimento de uma saudade que nem sabemos se é boa ou má e os ex-sorrisos transformam-se em memórias que já não entendemos.

Não entendemos porque é que mudamos tanto... Terei sido eu? Terás sido tu?

Com certeza a culpa não morre só. Mas a mágoa que sinto pelo desprezo que me dás é superior à razão que me faz pensar se merecerás o meu perdão.


Tenho pena de ti quando te vejo só. Porque até ontem a minha companhia era sempre tua. As minhas palavras eram felizes contigo e os momentos bons eram inesquecíveis.

Mas hoje, sei que a minha presença deixou de fazer sentido. Já não te conheço nem reconheço os teus passos.

Hoje caminhamos em caminhos diferentes, em sentidos opostos e em estradas paralelas. Por vezes tentamos enganar-nos, cruzamos as vias e conseguimos uma aproximação. Tão ténue que até dói. E dói mais do que a distância consentida.


Sento-me e penso naquilo que estarás a fazer neste momento. Pensas em nós? Naquilo que fomos um dia? Pensas nos lugares que partilhamos ou nas fotografias que o tempo não apaga?

Terei sido a amizade sem barreiras que ninguém iria ultrapassar? Ou terei sido um engano do destino que a maldade soube separar?


Serei ainda algo que recordas com emoção ou a frieza do teu olhar, a luz que deixaste de emanar gela qualquer espaço de aproximação?


É verdade, já fomos, um dia, laços inquebráveis de amizade. Hoje somos apenas olhares que se cruzam e corações que choram cansados, que lamentam um passado mas que não o admitem.

Hoje somos apenas só mais umas que, ao longo da vida, não têm a força para se voltarem a encontrar, para contrariarem os duros caminhos de ferro que tantas vezes percorremos juntas e para voltarmos a escrever, com o mesmo giz, um "para sempre" no quadro de lousa que alguém apagou.

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Life is a box of chocolates...

... You never know what you're gonna get.

Assim se escreve a frase que sintetiza a grande história de Forrest Gump.
Uma história simples, datada dos anos 60, mas que marcou uma fase importante do meu desenvolvimento.
"- Cris, tu quanto eras pequena eras o Forrest Gump" - dizes-me.
Sim, de facto eu era o Forrest Gump. Não porque fosse atrasada mental, gaga ou dona de uma paixão não correspondida. Não porque tivesse decidido dar a volta ao mundo a correr com umas Nike nos pés. Não porque (como se não bastasse) tivesse combatido na Guerra do Vietname e tivesse um colega que só soubesse falar de camarões.
Sim, eu fui o Forrest Gump.
Tudo porque o meu crescimento me pregou uma partida e com apenas um ano me ofereceram uma coisa a que se chama "voador". Que não serve para voar, senão abaixo das escadas...
Tudo porque com apenas um ano eu comecei a caminhar e, sem chegar ao chão sentada no pequeno banco daquela coisa redonda e cor-de-rosa com rodas, comecei a caminhar em bicos de pés.
E assim comecei a andar. Sempre em bicos de pés, tentando ser mais do que era, tentando chegar mais longe do que as minhas capacidades.
Ainda hoje assim sou, mas finalmente tenho os pés no chão.
Não uso voador porque, aos seis anos, decidiram levar-me a um ortopedista. Então passei manhãs e tardes inteiras num cubículo cheio de meninos como eu e como o Forrest Gump. Atraiçoados pelo próprio desenvolvimento motriz. Esperava horas e era atendida por um médico, ou um técnico que me apertava as pernas entre uns ferros desde a anca até ao tornozelo. Daí saía finalmente uma bota ortopédica que estava ligada ao ferro que descia da anca e se prendia a mim como uma sanguessuga através de umas faixas de velcro.
Tudo porque as minhas rótulas decidiram inverter o sentido e começar a rodar para dentro, direccionando as extremidades dos meus pés uma para a outra e fazendo-me caminhar como uma... pessoa menos normal.

A parte boa era que no fim das consultas uma senhora com cara de má me oferecia um chupa-chupa daqueles espalmados e redondos de várias cores enrolados num plástico transparente. E eu gostava sempre do verde...
E assim foi. Durante cerca de um ou dois anos na minha infância, eu fui o Forrest Gump. Eu usava sempre as mesmas botas ortopédicas quando as minhas amigas podiam usar sapatilhas ou sapatos novos. Eu usava sempre calças quando as minhas colegas podiam mostrar-me as saias novas que a mãe lhes havia oferecido. E eu não podia correr muito, ou arriscava-me a partir o aparelho que (de vez em quando partia só para minha felicidade) me estava a arrancar a parte mais divertida da minha infância.
Por isso sim, eu fui o Forrest Gump.

Mas será disso que se lembram quando pensam em mim quando fui criança?
É que eu só me recordo desse episódio quando mo lembram...
Será que se lembram do último trabalho meu? Será que o leram ou deixaram apodrecer o AUDIÊNCIA no canto mais escondido do banco da cozinha?
Sei que não lhes dou muitas vitórias. Inclusivé não sou aquilo que sonharam que fosse.
Mas por favor, não me lembrem apenas de que fui o Forrest Gump.
Eu cresci e já abri a caixa de chocolates que a vida me deu.
E realmente a mãe do Forrest estava certa: nunca sabemos o que ela nos traz.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Ou então sou assim...

Your results:
You are Wonder Woman






















Wonder Woman
73%
Supergirl
68%
Spider-Man
60%
Green Lantern
60%
Robin
48%
Superman
40%
Hulk
40%
Iron Man
40%
Batman
35%
Catwoman
35%
The Flash
30%
You are a beautiful princess
with great strength of character.


Click here to take the Superhero Personality Quiz

Dizem que sou assim...


You are The High Priestess


Science, Wisdom, Knowledge, Education.


The High Priestess is the card of knowledge, instinctual, supernatural, secret knowledge. She holds scrolls of arcane information that she might, or might not reveal to you. The moon crown on her head as well as the crescent by her foot indicates her willingness to illuminate what you otherwise might not see, reveal the secrets you need to know. The High Priestess is also associated with the moon however and can also indicate change or fluxuation, particularily when it comes to your moods.


What Tarot Card are You?
Take the Test to Find Out.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Sou pedra mármore

Sou doce quandos dias acordam frios e sou fria quando o gelo me perfura a alma.


Sei ser mole quando me dominam mas sou naturalmente frágil e dura.


Sou pedra mármore, branca calcinada de negro. Dura de roer, fria como o vento mas ao mesmo tempo quebrável ao primeiro toque.


Sou o que a vida me ensinou a ser.


Coração de manteiga, fio de água fresca, amarga como as formigas nas bolachas doces.


Sou alérgica a críticas que desconheço. Sensível às palavras más daqueles que gosto.


Mas a vida começou a mostrar-me que nem tudo é como eu gostaria que fosse.


As pessoas não são boas.


A vida é madrasta.


Os amigos escorrem pelos dedos.


E a cada minuto que passa sou mal desejada, mal vista, criticada.


Aos poucos aprendo a lidar com isso. Aos poucos ainda choro com isso.


Talvez um dia deixe que tudo me passe e eu permaneça impermeável.


Como a pedra mármore, quando não é cortada e aprecia de longe tudo o que lhe passa por cima.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

O nosso sonho

O nosso sonho morreu hoje nas mãos do destino.
Roubaram-no de nós como quem rouba um filho recém-nascido.
E eu chorei por ele e por ti,
Por não o poder viver na tua companhia.

Vou partir com ele, meu amor.
Porque me pedes que parta.
Mas nada será igual sem ti.
Porque tu és o pai dos meus sonhos.
Porque contigo sonho acordada o infinito e mais além.
Vou por ti.
Mas a dor de não te levar é mais forte do que a de o ver partir.

Eu prometo, meu amor
Vou voltar com o nosso sonho,
Aquele que geramos juntos.
E vai ser igual.
Tudo como era.
Tudo como fizemos.
Ainda que eu não tenha forças para acreditar.
Que esse sonho era teu e era meu.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Coisa feia, a Inveja


É tão cruel e tão dura que magoa mais do que qualquer arma.

Tem tanto de humano que se torna desumana.

Mas quem não o sente?

Quem nunca o sentiu?

É dura, crua, sacana...

Devia magoar mais quem a tem do que quem a sofre, mas quem a tem nunca o descobre e quem a sofre nunca a ultrapassa.

Dizem-nos que temos que saborear as coisas más para aprender a amar as boas.

Um dia provei a inveja e soube-me a fel. Nunca soube bem qual o sabor do fel, mas é amargo como as formigas. Quem nunca comeu uma formiga nunca saberá a que sabe a inveja. A única diferença é que a formiga é pequena e engole-se e a inveja é impossível de engolir.

Não a sei definir melhor.

Mas sei que é má.

E que é feia.

domingo, fevereiro 03, 2008

Vida madrasta

Com o tempo, a vida ensina-nos que a única pessoa com quem podemos SEMPRE contar é connosco próprios.
Porque, quando a maré está calma e não há tempestades, a areia cola-nos aos pés e não nos faz aflição nenhuma. Na verdade, até gostamos de sentir o cheiro a maresia e lembrar-nos de quando éramos crianças e brincávamos com tudo. Aquilo que, às vezes, tanto nos irrita (como a areia colada até aos joelhos) é algo que adorávamos há anos atrás.
Mas, quando o mar embravece e não nos podemos chegar perto. Quando o perigo é iminente e não temos quem nos ajude a escapar do afogamento. Aí, não temos areia colada às pernas. Sentimo-nos sós e uma mágoa enorme apodera-se do nosso corpo.
Porque a solidão é o pior sentimento que podemos sentir, principalmente quando trás de arrasto a constatação de que mais vale que estejemos sós e nos salvemos das injustiças, do que ter companhias que nos tragam tristezas e desilusões a cada dia que passe.
É que quando o mar está calmo e as coisas más não chegam perto, temos imensos braços para nos amparar...
Mas quando olhamos para o lado, só nos temos a nós. Porque aqueles que cá deviam estar, estão mais preocupados em se salvar a si próprios e a outros que não nós.
A vida é madrasta.
Deviamos aprender com ela.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Não me deixes sozinha


Ando triste.

Cheguei a casa na passada sexta-feira e o meu "pequeno Leo" como sempre lhe chamo, olhava-me do lado de dentro da porta.

Sorri imediatamente. Uma alegria incondicional apoderou-se de mim. Mas a duração foi tão escassa e tão fina que, por momentos, tenho a certeza que o meu coração parou.

No dia anterior tinha-o achado doente. Parti com tristeza porque sentia-o a sofrer e sem capacidade de se queixar.

O que mais dói quando nos apaixonamos por um animal é vê-lo sofrer. Principalmente porque são tão nossos amigos, tão companheiros que, quando ficam doentes, não são capazes de se queixar.

Nos olhos dele via lágrimas e tristeza.

Apetecia-me chorar, mas dizem-me que eles precisam da nossa força.

Na semana anterior, devido ao enorme coração do meu namorado, vivi um dos episódios mais marcantes de toda a minha vida. E foi com um animal. O pequeno cão agoniava no meio da estrada. O Daniel pegou nele e levou-o ao veterinário. Não havia nada a fazer. O sofrimento era demasiado para lutar pela vida dele.

Paguei. E ele morreu.


Só te peço, meu Leo:

Não me deixes sozinha.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Ver com os olhos do Coração


Trabalhar no Audiência tem-me aberto muitas portas. Principalmente as portas da imaginação.

Porque pensar faz-nos crescer, mesmo que por vezes só sirva para complicar.

Ontem foi a vez de me fazer pensar em tudo o que Saint-Exupéry foi capaz de condensar num livro que cabe na palma da mão.

"O Principezinho" é tão simples, tão pequeno, tão fugaz que se "lê" numa hora, ou talvez menos.

Mas será que uma vida inteira serve para compreender a profundidade de tal lição?

Mais uma vez os meus parabéns ao senhor La Feria.

Assistir ao Principezinho de La Feria é aprender a ver a vida com os olhos do coração, nem que seja apenas durante os 45 minutos em que a ilusão ainda dura.

terça-feira, janeiro 15, 2008

Há muito que não escrevo.... aqui

Há dias perguntou-me o meu pai: "Tens actualizado o teu blogue?"
A resposta foi penosa.
És um espaço onde desabafo, onde dou aso à minha imaginação, onde escrevo aquilo que quero e até aquilo que não posso.
A vida deu-me espaços. Deu-me liberdade. Mas uma liberdade condicional.
Vivo para escrever e a escrita é o meu dia-a-dia, a minha linguagem-mãe.
É a escrever que comunico ao mundo aquilo que vejo. Aquilo que quero que os outros vejam à minha maneira. A escrita é a minha forma de impôr ao mundo a forma como quero que eles o vejam.
E quando escrevo, mando.
Quando escrevo sou soberana, mesmo que lá no fundo queira que me ignorem, que me anulem à minha pequena ignorância, ao meu não saber, à minha pequenez.
No fundo sou pequena. Mas na escrita encontro o altar onde acho que me posso elevar.
Mesmo que em momentos de lucidez tenha noção de que não sou aquilo que quero ser, de que não sei aquilo que quero ser, de que não...

"Não pai. Não escrevo há muito tempo. Prefiro escrever num jornal onde, pelo menos, tenho a certeza de que alguém me lê. Nem que seja apenas o editor".